Wednesday, November 30

XCVI

Anti-palavra-criador-de

Não sejas escritor,
vive o momento,
não sejas pintor,
deixa de ser nojento!
Os sonhos que tens
são puras miragens,
os resultados que obténs
são puras sondagens!
Visão esquerda da alma,
não há nada que acalme
o rugir feroz do tigre
que há em mim!
Esquece a vida negra,
porque a morte é que é certa,
ondula secreta, desperta,
na noite insensata de alguém!
Não há negativo pior
que aquele que espelha
o péssimo mentor
que da sabedoria é azelha!
Fácil é mandar viver,
quando a perspectiva real
é apenas sobreviver
à selecção cruel, natural!
Tornando o problema em solução,
combate-se a vívida depressão,
esquece-se a morte num caixão
e entregamo-nos de pronto à reencarnação!
Lágrimas cortantes e frias
escorrem de meus olhos
em imensos tristes dias
e traçam a vida corrente...

07/09/2002

Tuesday, November 29

XCV

Velosados

Destrutível, a força
que possui o imbatível!
Infalível, o plano
que torna a dor possível!
Chocolate, o doce
que te transforma em alicate!
Emoção, a voz
que é vinda do coração!
Indivisos, são os juízos
que verdadeiros paraísos
nos levam a realizar!
Clorados, são átomos
que, por terem cloro,
impõem opiniões com as
quais nem sempre concordo!
Viaduto do querer paixão
encontra-se na palma da minha mão,
vive no meu coração
e mata sem grande preocupação!
Esquece o que interiorizas,
não sejas estúpido ao ponto
de, só por teres divisas,
pensares que és o máximo!
Enraivece o touro,
porque precisas de lutar,
não para ganhares ouro,
mas para a vida ganhar!

07/09/2002

Monday, November 28

XCIV

Homofonias finais

Com a teia me enredaste,
grande pânico causaste,
até que de mim te aproximaste
e por fim me devoraste!
Não houve a mais fina haste
que com tanta força não quebrasses,
a vida boa me causaste
no tempo pouco que em mim ficaste!
Chora agora com remorsos
de me partires os ossos,
me mandares para poços
e me afogares nos fossos!
Tortura dos dias nossos,
prepara cedo os teus bolsos
para teres reembolsos
por seres um dos meus corsos!
Desembainhaste a espada,
derrotaste a minha armada,
bloqueaste a minha estrada,
tornaste a vida elevada!
Seriamente me tiveste
como erva má e agreste,
de mim troça fizeste
e injectaste em mim a peste!
Agora merecias um duro castigo,
dormir sempre comigo,
isso seria ad eternum,
se eu fosse, para ti, ser algum!

02/09/2002

Sunday, November 27

XCIII

Sonda

Sonda que me observas,
quais são as ordens directas
que tens para realizar?
Serão elas tempestades,
ventos sombrios e fortes,
ou a mais cruel das mortes?
Serão elas doces, suaves,
como belezas moldaves
à beira de um rio terno?
Escritor de beira-rio,
queria ser muito pio
e nunca outros magoar,
mas isso nem sempre consigo,
muitas vezes me zango comigo,
por tanto nos outros acertar!
Desculpem, vítimas do cruel
que muito navega no batel
e que mata com beijos de mel
cada um dos seus amantes!

02/09/2002

Saturday, November 26

XCII

Tornado de escrita

Sinto-me à vontade
para dizer de verdade
qual escolher: a saudade
ou a mentira de um adeus?
Interior, a escultura
que encontra na sepultura
um dos melhores amigos
que nunca teve!
Trovato, a personagem
que chegava de viagem,
que tinha como miragem
o amor pérola!
Jóia de um outro mundo,
estrela do mar fundo
que encontra no soturno
a sua razão de viver!
Simbólico, o vento sopra
de acordo com a sua vontade,
é como seria a verdade
cantada numa ária de ópera!

02/09/2002

Friday, November 25

XCI

Strani

A gratidão é algo que
não devemos esperar,
devemos exigir, porque,
se estamos dispostos a dar,
qual a razão por que não
nos podem retribuir?
Som de cor descolorado
esse é o tom do meu fado,
canto sem voz afinado
o meu lamúrio silenciado!
Com o sol a desaparecer,
sinto longe a vontade de adormecer,
porque contigo de noite e
de dia necessito viver!
Não quero injustiçar os amigos,
o que quero é viver a vida
de acordo com meus princípios!
Esconde a alma, sol negro,
porque preto será o teu destino,
longe mas repentino!
Introdução : vida;
na extinção : morte;
fim da missão : norte;
escuridão : sorte!

02/09/2002

Thursday, November 24

XC

Como poderei

Como encontrar tradução
para a linguagem do coração?
Como unir razão e sentimento
num mútuo estado de entendimento?
Como não sentir sede no deserto?
Como encontrar do amor
o caminho mais certo?
Como te dizer que de ti me afasto,
se a minha alma eu comigo não arrasto?
Como viver sem água,
respirando um ar de pura mágoa?
Como fugir do teu alcance,
quando tudo podia ser um bom romance?
Poderei tentar dar-te espaço e tempo,
poderei tentar controlar meu sentimento,
poderei tentar por uns tempos te esquecer,
poderei tentar apagar as marcas do prazer
que me compraste ao me foder,
poderei tentar as lágrimas salgadas não chorar,
com medo que elas a vida consigam lavar,
poderei tentar viver sem muito te ver,
sabendo, no entanto, o quão difícil irá ser...

27/08/2002

Wednesday, November 23

LXXXIX

Micro-exagero

Tentei do meu corpo
teu cheiro retirar,
mas a resistência que me ofereceu
fez-me desistir e
considerá-lo também meu!
Deste um novo sentido revigorado
à minha vida terrena,
tiveste uma acção pequena
que tornou viver
num paraíso encontrado
depois de séculos perdido!
Versos emaranhados
como fiadas de um cordel,
expressam bem o que sinto
emoções exageradas
como ondas grandes indo
contra pequeno batel!
Cada vez mais certo
do meu amor por ti,
percorria todo o deserto,
até ao fim do mundo iria
se soubesse que, pelo menos,
me amarias no meu final dia!


22/08/2002

Tuesday, November 22

LXXXVIII

Tudo vida mas...

Tenho medo que tudo
de repente se desvaneça
e um momento bom do
meu mundo desapareça...
Tudo desaparece um dia,
mas o que queria
é que a alegria durasse
e não que a dor jamais passe...
Vivo na possível ilusão
de te ter sempre aqui,
mas não consigo de ti
me esquecer, nem é essa a intenção!
Na vida já aprendi umas lições,
mas uma muito importante:
quem controla corações,
controla de gente bastante!
Oxalá eu sobreviva
a este modo de vida,
tu és de forma expressiva
a minha coisa mais querida...
Não há obra de arte mais pura
que pura criança queira mais estragar,
tu és aquele que me segura
para do penhasco não me despenhar!

21/08/2002

Monday, November 21

LXXXVII

O que acontece

Tu partiste a loiça toda
ao dares esta grande foda!
Entraste dentro de mim
e colocaste-me em êxtase sem fim!
Depois e antes, me abraçar
foi o melhor que me pudeste comprar!
Ofereceste-me a bela flor pesanca
e a minha alegria foi e é tanta!
Se me queres de ti afastar,
a tua estratégia fracassou,
mas, se pretendias que
te continuasse a amar...
Aí é que foste um estratega real,
deste-me a estocada final,
provocaste do meu exército a rendição
e amo-te sempre sem nenhuma condição!
Nunca te esquecerei
nem tão pouco libertarei
do meu corpo o teu odor
nem que se torne infinito o meu suor...

19/08/2002

Sunday, November 20

LXXXVI

Depois do adeus, libertação

Será que está toda a gente errada
ou é a minha percepção que está enganada?
Eu devia saber o que fazer,
dado que sou perito em problemas resolver.
No entanto, da minha vida se trata
e ajudar os outros é tarefa mais imediata!
Viver é para mim sobreviver,
chorar é para mim respirar!
Olá ao mundo da dor dador,
esse é o meu destino desde menino!
Gostava de poder acabar
o que devia terminar:
a minha vida!
Morre, poeta egoísta,
inflama-te e deste mundo
perde a vista!
Tu que não respeitas
dos outros a vontade,
morre e vive em liberdade!

17/08/2002

Saturday, November 19

LXXXV

Imprescindível

Intrepidamente, dou por mim
a pensar em toda a minha vida,
resumindo-a assim
a uma tragico-comédia bem redigida.
Quando tudo corre mal,
tudo me parece normal,
por causa do hábito adquirido.
Quando tudo corre bem,
sente-se uma estranheza que vem
do inesperado acontecido.
Nunca me retires o tempo
que passo contigo,
pois esse é o meu abrigo.
Nunca me dês o tempo em
que estou longe da tua pessoa,
pois é a dor mais forte que me povoa.
Espero novamente que saibas
que és para mim António,
nunca serás adeus
e por isso és um dos tesouros meus!

13/08/2002

Friday, November 18

LXXXIV

Negação da vida

É inacreditável
como o mundo parece afirmar
que a minha dor é
um recurso inesgotável!
Isso é uma reacção
ao facto de eu ter
estabelecido uma meta que
consiste em ouvir meu coração!
Este que me revela
o quanto a vida é bela,
este que me expõe
à dor que para sempre dói!
Viver nunca me pareceu
antitético, mas neste momento
vivo num círculo de
profundo complemento!
Se me vê feliz, a vida
tem duas opções:
ou me empurra em frente
ou executa para trás os empurrões!
Normalmente, é a última
a mais segura e fiável,
porque ajudar-me sempre
seria tornar-me imbatível!

10/08/2002

Thursday, November 17

LXXXIII

Memória viva

Iluminar o espírito,
operação necessária
para aguentar a vida diária
longe do preferido!
Lembrar sempre
do respirar ofegante,
do bater compassado
do teu coração,
ouvido encostado
ao teu tórax escaldante,
noite que depressa caiu
e nem para dormir serviu...
É normal, estando eu
a dormir no céu, com
o meu certo de corpo ao léu,
convidando-me a o acariciar!
Foi bom, muito bom,
adorei esse momento
e só achei nojenta
a sua curta duração!
Por mim, era esperado
que durasse ainda menos,
porque, para mim, o que é mau
é que tem tempos plenos.
Quero viver contigo, amor,
por muito que não me ames,
eu estarei sempre a teu redor,
à espera que tu me chames...

05/08/2002

Wednesday, November 16

LXXXII

Preciso de...

Na minha poesia,
o que se conta é o dia-a-dia
de um jovem mui sonhador,
que pensava ser possível
erguer o reino do seu amor!
Encontrados espaço e tempo
para esse reino erigir,
faltaram-lhe as condições,
essas malvadas condições,
para esse desenvolvimento!
Violentamente reagindo,
esse jovem apaixonado
revolta-se, muito zangado
com o que lhe vai surgindo,
obstáculos no seu caminho!
Na sua vida,
tal como em muitas outras,
nada lhe é facilitado,
há sempre em si uma ferida,
está, sempre em si, magoado!
Tentando mostrar ao mundo
qualidades em si inatas,
acaba por meter as patas
numa das grandes poças
e entra em pranto profundo!
Felizmente tem um objectivo,
não deixar seu amor
se tornar um fugitivo,
isto é, nunca se esquecer
que, por amor, tem que viver ou morrer!

03/08/2002

Tuesday, November 15

LXXXI

Isole

Não quero ficar isolado
num mundo desapaixonado
que me grita ao ouvido constante,
tu não tens recíproco amor, criatura aberrante!
Não há ninguém que em ti aposte,
não há ninguém que de ti muito goste,
não há ninguém que te não despreze
e há sempre alguém que de ti se esquece!
Isso o que acrescenta à tua vida?
Nada, tu sempre te habituaste
a ter algo a te incomodar,
nunca foste totalmente seguro
nem tão sólido como um muro!
Não há sonho maior
que encontrar um amor,
já várias vezes te disse,
mas pior que essa ocorrência,
coisa que também te disse,
é encontrar e haver desistência!
Olha, diz-me o que é real,
será que a vida não presta
ou tudo o que tenho é somente ideal?
Como já espalhei ao vento,
quanto maior afastamento,
maior será o sentimento
de desejo de reaproximação...

31/07/2002

Monday, November 14

LXXX

Longo discurso

Sou aquele que te aplica a tortura,
enquanto tu és a minha cura!
Sou aquele que mais te angustia,
enquanto tu és a luz do meu dia!
Sou aquele que se finge de inocente,
enquanto tu és o neurónio da minha mente!
Sou aquele que mais procura o teu amor,
enquanto tu és, às vezes, a razão da minha dor!
Sou aquele que espera toda a semana,
enquanto tu és quem evita a minha presença humana!
Sou aquele que contigo injusto sabe ser,
enquanto tu és o oxigénio para viver!
Sou aquele que dava tudo para te ter,
enquanto tu te escondes para me não ver!
Sou aquele que fez não resultar a relação,
enquanto tu és quem a pôs em extinção!
Sou aquele que rima para aliviar,
enquanto tu és quem foge para não me magoar!
Sou a vida melhor que podes ter,
enquanto tu és quem mais me faz querer viver!
Sou o sol presunçoso do teu mundo,
enquanto tu és quem me faz bater no fundo!
Sou o verdadeiro amor com que podes sonhar,
enquanto tu és aquele que mais alegria me pode dar!

30/07/2002

Sunday, November 13

LXXIX

Sempre anti-glabro

O corpo, neste dia,
encontra-se satisfeito,
recebeu o que queria
e disso tirou proveito!
A alma, ao corpo unida,
ficou cheia de vida,
queria voar para longe
quando acabou o dia, hoje!
Da fusão perfeita de ambos
surge um sonhador nato,
que procura não espalhafato,
mas sim uma vida feliz!
Já te disse, mais que a vez,
que és o que sempre quis,
e que nada mais me comove
do que ver o teu sorriso feliz!
Como vês, a alegria
está sempre presente,
quando termina o dia
em que te tive à frente!
No final do verso quadra,
quero felicitar-te, amor,
por teres pele não glabra
e por me aliviares a dor!

28/07/2002

Saturday, November 12

LXXVIII

2, 7, Dias

Tento tudo para me distrair,
mas a minha memória tua
parece não se diluir...
Quando chega a escuridão,
gritante, o meu coração
revela a tua falta...
No entanto, dois
sete dias passaram
e as saudades que tinha
não tão fortes se revelaram...
Embora isso seja verdade,
nunca com isso disse
que a minha tua saudade
se desvaneceu no ar...
Três pontos revelam
confusão na mente
de quem tudo sente...
Três pontos são o fundo
da garrafa partida
que aparece como meu mundo...

22/07/2002

Friday, November 11

LXXVII

Retour

Depois de adormecido, o poeta
reergue sua caneta
e escreve uma linda balada
que conta a alegria ostracizada!
Repressão da felicidade,
existo porque tenho bateria auxiliar,
dado que energia heureuse
é o que venho a precisar.
Gotículas de vida
vão caindo a meu redor,
só para manter erguida
a resistente estátua da dor!
Ultra-sublimando o assunto,
a morte é a vida
e a vida é morte,
cada um tem de escolher
qual delas lhe calha em sorte!
No amor baseio o viver,
mas se viver é morrer,
então amar também é morrer...
Nunca pensei que amor fosse morte,
mas analisando a situação
e fazendo comparação,
não há dúvida de que,
quer um quer outro,
causam um impacto forte!

19/07/2002

Thursday, November 10

LXXVI

Cortinas brilhantes

No escrito, homossexual é dual,
mas, no mundo real,
não o devia ser, porque
isso é a ponte para o virtual.
Mesmo sexo relativo no final
não significa somente bacanal,
porque, numa relação passional,
tem que haver amor!
Desse sentimento defensor,
nego o leve e irreflectido dispor
de corpos ao sabor
da corrente de humanas vontades!
Infelizmente o amor,
para poder ganhar fulgor,
precisa de ser verdadeiramente sentido,
com alegria, tristeza e até dor!

11/07/2002

Wednesday, November 9

LXXV

Hoje

Dizes que só tenho garganta,
mas que queres que faça,
quando a distância imposta é tanta!
Além disso, o que te disse
aparece no sentido figurado,
porque comer não é só foder,
mas também absorver, engolir e preencher!
Tudo que mais queria
era ser o teu querido,
mas tu assim não quiseste
e acabei por ser despromovido.
Com uma vida pela frente,
como queres que eu tente
ser feliz sem ti?

07/07/2002

Tuesday, November 8

LXXIV

Usurpação

A minha inspiração
só aparece de madrugada,
altura da bateria descarregada
e em que tudo em mim se cala,
incluindo o coração!
Já te informei que
de ti tenho saudades
e que de quem se gosta
normalmente se sente a falta!
O Pablo disse que morre
quem preferir calma
aos montões do que sentir
um redemoinho de emoções!
Como já tinha dito,
não reprimo nunca mais emoções
e prefiro que me magoem a
que me deixem morrer na monotonia!
Todos solucionam a alheia vida,
mas, quando chegam a viver a sua,
esquecem-se de que existe sempre rua,
mas é melhor estar na casa querida!
Usurpo poderes extra-humanos
porque encontro obstáculos
quase inultrapassáveis...

01/07/2002

Monday, November 7

LXXIII

Internus Oftalmicus

Já não escrevia há algum tempo,
isto porque me enfiei na toca
porque a minha cardio-segurança é pouca
e porque estou num interior momento!
Esquecendo as complicações,
procurando novas definições,
espero viver com tranquilidade,
porque não há necessidade de instabilidade!
Corajosamente falando,
espero continuar brando
e, embora me pensem impaciente,
eu vou mostrar o que quer dizer paciente!
Titã do fundo dos poços,
procuro quebrar os ossos
do esqueleto do destino,
porque esse malvado
é aquele que, despreocupado,
me tem feito perder o tino!
Maluco ainda não sou,
embora para isso
muito não falte,
tudo o que o vento me levou,
é dívida do homem mestiço
para com o homem que lhe bate!

30/06/2002

Sunday, November 6

LXXII

Escrevendo a alma não

Ultimamente tenho dificuldades
em dizer o que pretendo,
mas isso deve-se à pseudo-abertura
das pessoas para dialogar!
Normalmente referem que dizer verdades
é muito bom, mas por vezes não é bom
quando as pessoas as verdades
ouvir não querem!
Não é crime o que tenho para falar,
somente a verdade eu preciso de contar,
especialmente aos meus queridos,
à minha família e amigos!
Por vezes o meu defeito
é querer planear o futuro,
quando tudo o que preciso
é consolidar o presente muro!
O que é necessário é
uma humana ajuda,
porque a vida de um homem
sem outro é uma dor muito aguda!

26/06/2002

Saturday, November 5

LXXI

Maldição

Sinto-me muito mal
por te fazer mal,
não há muita intenção minha
em apontar, a ti, a armadilha...
Não posso no entanto omitir
que é frustrante não conseguir
estar sempre ao teu lado,
que merda deste meu fado!
Esquecendo a ruína do espírito,
posso avançar e encontrar
um plano empírico
que me permita passar
por cima de ti,
mas isso vai implicar
muita destruição
e, acredita, para teu bem,
é melhor não!
Odeio que não acreditem em mim
e eu já te disse que
a violência faz a constância
da minha raiva e intolerância!
Escrever sempre foi a minha arma
perigosa, fatal e impiedosa,
arriscas-te a perder
a vontade de viver,
não te posso esquecer,
que merda de vida...

22/06/2002

Friday, November 4

LXX

Loucura iminente

Eu pareço uma múmia
a vaguear pela casa
sem saber o que me irá acontecer,
o que a minha vida irá ser,
agora que me puseste fora da equipa...
Porque é que tens de te afastar
num dia que por ti devia ser feriado?
Porque será que a equipa jogou bem
mas não obteve nenhum resultado?
Porque me dizes que é possível
nós no futuro?
Porque não queres que eu seja
o teu porto mais seguro?
Isto são questões complicadas,
delicadas, angustiadas, enervadas,
pesadas, incrustadas
no cristal da voz silenciosa...
Por que razão
estou farto de gritar:
Não, não te vás embora
da minha vida,
porque sem ti
não há o respirar suave,
não há o dormir belo,
não há o acordar com somente
um moço lindo e singelo:
Tóu...

21/06/2002

Thursday, November 3

LXIX

Chaud

O meu quarto está quente,
uma tortura inclemente,
porque me avisa que
tu não estás presente...
Estou ainda a tentar
a inundação parar
dado que o teu anúncio
modificado foi demais para mim...
Não que eu já não soubesse,
tu me disseste que iria acontecer,
mas não houve suficiente preparação
para uma notícia tão quente...
Quando a conversa com as bengalas
começou, tudo, tudo aliviou...
Só preciso de tempo,
não para deixar de te amar,
mas para a alma amordaçar,
de modo a que impere o silêncio.
A loura disse-me
para eu escutar o coração
e no silêncio encontraria
a resposta à minha questão!
Vou fazer isso na tentativa
de me esquecer da vida,
pois ela a mim se apresenta
como uma enorme ferida...

21/06/2002

Wednesday, November 2

LXVIII

Invariância

Estou a começar a não ter
sobre que escrever,
porque esta fase é constante,
no tempo que decorre durante...
Tudo se repete agora
neste instante que demora
muito tempo a passar...
A história diária é semelhante,
poderia até dizer invariante,
penso em ti, páro, retomo o pensar em ti...
O busílis da questão está cá fora,
porque por dentro ninguém chora,
é difícil descrever
o que lá dentro está a ocorrer...

20/06/2002

Tuesday, November 1

LXVII

Pseudo -> Profecia

Na incerteza do passado
baseio a dúvida do presente
e busco o paradigma do futuro.
O que quero dizer é que,
se antes estava inseguro,
agora estou na dúvida
e estarei paradigmático no futuro!
Não descansarei à sombra
dos pacotes de merda obtidos
e não me aquietarei esperando
que me retirem cera dos ouvidos!
A busca é incessante e permanente,
não há mais ninguém que a aguente,
nem eu quero que ela de novo rebente,
só espero que não haja um desistente!
Ritmo frenético,
a ele estou habituado,
toda a minha vida é veloz
para que tudo seja assimilado!
Tenho pena que a velocidade
se aplique também ao amor,
porque, se eu perder o Tó,
o mundo deixa de o ser,
passa a chamar-se dor...

19/06/2002