CCLXXI

Insomne queda gotejante

Este vasto mar de gotas verticais
é uma vez, uma outra noite mais
a minha insómnia, a minha companhia!
O sono abandonou-me, tenho bateria
ilimitada ou isso me parece, pensarei
agora, como sempre, em ti, a ver o que
de facto no que resta de noite acontece!
Fazes-me falta, meu urso, a cada momento,
mas sinto-te aqui, presente, com efeito
permanente, defendes o reino, és regente
do império que sou eu, és imperador
e dominas o que existe em mim, meu amor!
E controlas livremente, sabiamente,
o que te pertence por bem adquirido,
deixa-me de novo sussurrar no teu ouvido
aquelas palavras que no meu interior
fervem, aquelas que em ebulição
dentro do meu coração me pedem
a cada instante para sair e pedem
que as deixe viajar, do fulgor
da minha boca ardente para o receptor
fogoso do teu ouvido ouvinte e atento!
Posso até não dormir este noite, sim,
mas sei que voltarás para junto de mim
e esse saber é o que me mantém feliz assim!

01/04/07