Friday, March 31

CLXXIII

Floresta dicotómica

Por entre os pinheiros
procurava uma flor,
querida e doce
como se fosse minha.
Chorando por não te ter
só podia imaginar
apenas um final para
este infindável amar.
Suicídio?
Não, seria demasiado veloz
para apagar dor tão atroz.
Estranha talvez ela fosse
ou tu assim me achasses.
Doidos deslizam na estrada
tal como a dor de amor causada!
Quantidade em demasia
extrai vital capacidade
que é a habilidade
de amor e ser amado.
Quem ama diz que
possui a chama,
quem é amado diz que
não há mais celeste estado!
E, no fim de tanta ilusão,
só resta uma paixão
que, de tão fraca,
nem uma pedra move.

Thursday, March 30

CLXXII

Fora de ordem

Quando do rosto
a expressão está fechada,
é a dureza que resta
nessa alma magoada.
Isto faz-me pensar
quão fácil é ferir
a pessoa que vive a vida.
Difícil perguntar
o que está a magoar,
difícil consolar
quem quer seu coração ocultar.
A personalidade que recusa
entrar em sociedade confusa,
querendo, talvez, fugir
a quem a dor quer medir,
a que sente no momento
em que a vida lhe traz,
fria, o pior das coisas más.
Furtando-se ao terror
de enfrentar o seu amor,
refugia-se na concha sagrada
e procura, talvez, encontrar
a morte há tanto desejada.
Surge, de súbito, um anjo
de alva pele e olhos doces
que o redime de tudo
o que ele se culpa.
Ele fala em dor,
ela fala em alegria.
Ela fala de amor
e ele vê nascer o dia...

Wednesday, March 29

CLXXI

Lágrimas que caem

Os dias da decisão chegarão
e não precisarei de pedir perdão
a ninguém, porque a minha acção
apenas será a do coração!
Que culpa maior é esta que sinto,
mas porquê, se eu não minto,
quero dizer a verdade e consinto
que tapes os ouvidos, puro instinto!
Mas, querida, ouve-me apenas,
que será benéfico, acenas
a um mundo irreal, apenas
tornas difíceis todas as cenas
desta peça que é a nossa vida,
agora separada será a vida
de nós dois, mãe e criança parida
serão dois, mãe e criança crescida!
Vou embora, sabes bem que não queria
magoar-te, porque de noite e de dia
sei que pensas em mim com carinho
e vais sentir a minha falta no caminho
tortuoso de viver, sem mim, teu filhinho,
que disseste, brincando, ter vindo por engano,
se não duvidares nunca do quanto te amo,
saberás que nunca te abandonarei, levanto a mano!

11/12/2004

Tuesday, March 28

CLXX

8ctet

O meu guarda-chuva
de ansiedade está encharcado,
é o que acontece quando algo
está para acontecer comigo,
importante na minha vida curta!
Corajoso e paciente sou intimado
a aprender a ser, caso contrário
para a roupa se fechará o armário
e a saída pacífica de onde estou
é aquela que se perdeu, se abortou!
Todavia, isso não é aceitável,
eu sou carneiro selvagem indomável
que segue em frente com marradas,
quem não queira ser atropelado
saia da frente ou aguente as pancadas!
Ela pensa que, por eu não falar,
isso me impedirá de partir,
mas não podia estar mais enganada,
isso só fará com que doa mais ouvir
os vocábulos definitivos que irei pronunciar!
Todavia, com ela triste não queria sair,
porque algumas forças se necessitam
para tudo aquilo que há-de vir,
no entanto, nada temo porque terei a meu lado
a alma e corpo que todos males, por mim, enfrentam!

01/12/2004

Monday, March 27

CLXIX

Partida dura

São as coisas que não trespassam
nem numa palavra nem em duas,
são as coisas que ultrapassam
a verdade das superfícies nuas!
São coisas difíceis de arrancar de dentro,
coisas que se sentem agora, neste momento
apenas quero te dizer, querida mãe,
que do amor eterno forte sou refém!
Por isso, terei que ir embora deste lar,
a minha casa deixará de ser esta tua,
tenho que viver noutro belo lugar,
onde possa meu homem beijar e ir com ele à lua!
Mas sinto que te irei magoar muito ao dizer
tudo aquilo que necessitas de saber,
porque no fundo eu te entendo como ninguém,
fogo do meu fogo contra a água, minha mãe!
Olha, passará mais um dia e tu ainda estarás
ignorante do rio de verdade que corre detrás
dos montes aparentes do continente que é a tua vida,
mas é certo que saberás antes do momento de partida!

28/11/2004

Sunday, March 26

CLXVIII

Se chover mais

Aqui te esperava entre mantas,
pronto para te dizer em voz carinhosa,
tu, meu gordito, de perto de mim
não sairás nunca mais, jamais
digas que desta cama sem mim te levantas!
Este é um dia chuvoso,
o vale de água derrama de cima,
eu vejo como um reduto a cama
onde me sinto sempre confortável,
quero mostrar-te o quão sou carinhoso!
Quero isto e quero aquilo,
mas o meu desejo é estar contigo,
agora, amanhã, na vida,
mexe-me suave e doce no umbigo
e eu beijarei essa tua boca atrevida!
Agora irei descansar,
pois fraco não quero ficar,
mas acordarei e esperarei por ele,
para estarmos juntos, pele com pele!

27/11/2004

Saturday, March 25

CLXVII

6 + 1 = 10

Se há momentos na existência
em que não há indecisão, não,
este é um deles, clássico
amor entre dois homens,
quem mais manda é o coração,
agora tenta perceber o que tens!
Se te falta algo do género,
não desanimes, que eu sou sortudo,
só por tal digo que tenho tudo,
caso contrário estaria nesse barco,
se calhar te encontraria, convidaria
para uma noite ou mais num quarto!
No entanto, não te posso convidar,
visto que com a traição eu não vou pactuar,
essa moda das tais relações abertas,
mas calma, depois disto lerem, poupem
trabalho e, por isso não me crucifiquem
por querer ter apenas um sob as cobertas!
Já sei quem é esse, chama-se Nicolas,
excelente nome, que com mel soa a meus ouvidos,
pensas nele, vês que o tocas com dez sentidos,
ele é meu, vai procurar outro, sai
de cena, a tua participação é curta
no romance que tenho com o amor meu!

19/11/2004

Friday, March 24

CLXVI

Ignoratis

Se te sentires ignorado,
esquece, vive, desaparece,
coloca o que pensas em sinal aberto,
para poderes ter a descoberto
o sentimento do mal-amado!
Sentes-te só, ninguém tem dó,
peninha de ti, tonto como só tu,
pobrezinho do rapaz, tu,
olha, não te esqueças de esquecer
aquilo que te atormenta, já a viver!
Pensa no teu amor, ele é teu,
não é nenhuma ilusão,
apesar de haver quem diga que não,
esquece, vive, aparece
ao teu gordito do coração!
Sigo sem entender os motivos,
porque foges de mim, esquivos
os teus movimentos de fuga,
é sempre uma eterna procura,
mas tu te escapas sempre!
Então eu me deito na cama
que me acolhe hospitaleira,
não é boa conselheira,
mas ao menos faz-me companhia
enquanto durmo, almofada macia
que me afaga o rosto, me iludindo
enquanto cego surdo e mudo vou dormindo!

26/10/2004

Thursday, March 23

CLXV

Eu vs. T.E.M.P.O.

Quando a janela se abre,
entra o sol e entra a lua,
mas ainda não entrou a tua
presença na vida, não ainda!
Com ansiedade te me espero,
ver a doçura no teu rosto doce,
ter em teus meus olhos como se fosse
vidro o material que constitui teu olhar!
Mas vidro é frio e o calor
que sinto quando contigo
não combinam com esse artigo,
criado a partir de areia e algo mais!
A areia da ampulheta vai descendo,
mas com um ritmo tão desacelerado
que eu penso que o tempo me tem torturado,
vil bandido ele é, mas eu sou melhor, mais forte!
Aguento as tuas partidas e sabotagens,
tu que criado p'los homens foste, sim,
tu que me atormentas com teu andar lento,
ansioso e expectante tu me queres ver enfim...

17/11/2004

Wednesday, March 22

CLXIV

La loca

Muitos conhecem a loucura
como um estado natural demente,
mas quem não a conheça pura,
não a pode cumprimentar, jamais!
Chamá-la pelo nome, como amigo,
é coisa difícil de realizar,
sendo, se mantendo de mente sã
a pessoa que a levar consigo...
Conviver com tal entidade
é, no entanto, interessante,
porque ela te dá total liberdade,
fica cheio o pensamento esvoaçante,
sentes súbita necessidade
de meter vocábulos no papel,
na folha que tens, de ti, adiante!
Muitas vezes a gente
te denomina de incompetente,
mas é porque não entende
tudo o que o je vende,
tudo o que sai da caneta,
aquela rasca com que escrevo
tudo o que me apetece!
Se vais criticar o escrito,
força, fá-lo agora,
mas olha que a demora
em encontrar argumentos
para deitar abaixo
é apenas uma das coisas
que eu noto em ti,
pobre insecto rastejante
que, com o mindinho, esborracho!


19/10/2004

Tuesday, March 21

CLXIII

Memórias e tu

Tenho boas memórias,
daquelas que nunca vão,
memórias guardadas, histórias
depicturadas no meu coração!
Vêm sempre que eu estou só,
com os meus pensamentos,
e eu imagino o que acontece
agora, com esses elementos!
Penso muito mais, contudo,
no quanto eu sou sortudo,
por ter o meu gordito,
embora esteja longe in situ,
ele é parte essencial do que vivo,
constitui o meu objectivo
ir ter contigo, meu amor,
para sentir do teu corpo o sabor!
E da tua alma o aroma,
saborear o nosso amor todos os dias,
viver as nossas muitas alegrias!
Quando deixar de te amar,
mesmo que isso não aconteça,
eu não quero mais estar
apaixonado por alguém que me mereça!
Tu és tudo o que eu quero, meu amor,
não preciso de mais na vida
que a tua presença querida
junto a mim, meu doce gordito,
ama-me sempre e eu sempre te amarei,
palavras cliché ditas com todo o fulgor!


28/09/2004

Monday, March 20

CLXII

Tempo a 2

Queria poder calar a voz
que, dentro de mim, receosa,
diz que tudo vai acabar,
que a felicidade não chega
a mim, guerreiro da rosa!
Mas só há um modo de o fazer,
ir contigo e aí viver,
partilhar a cama e emoções,
dias maus e dias bons,
caminho, juntos, a percorrer!
Tu me dás confiança,
porque mostras que me amas,
eu vivo na justa esperança
de dar-te tudo quanto mereças,
ser do teu peso a balança!
Neste momento, já faltou mais
tempo, o mês está a terminar,
com isso novo més virá e com ele
tu também a mim chegarás,
vamos fazer amor e nos amar!
É importante tudo o que fizermos,
mas nunca será mais importante que
o tempo que junto estivermos,
esse será o nosso merecido prémio,
esperemos que dure um inteiro milénio!


27/08/2004

Sunday, March 19

CLXI

Torpedo rápido

Quem me dera já poder estar
junto ao meu amor e ser capaz
de matar esse exército que luta comigo,
o exército da solidão,
que com a sua persistência
vai enchendo de descrença
a minha vida, esta que vivo!
No entanto, tudo muda para melhor,
isso é verdade, chegaste tu,
mostraste teus olhos e eu me apaixonei,
falaste a meus ouvidos e eu me emocionei,
pegaste no meu coração e eu deixei
que o meu amor por ti enchesse
a minha alma todos os dias,
como se estivesses nos meus braços,
como se me fizesses cócegas,
como se os dias não fossem frios!
Até agora tenho tido tempo,
mas, quando estiver contigo,
o tempo fugirá como se de mim
tivesse medo, será pouco, porque
nos vamos amar tanto, que a terra parará
o seu movimento circular,
e o gelo dos pólos derreterá,
porque o calor do amor
de que vamos dispor será maior
que tudo o que conheço,
ama-me hoje e sempre e eu
de respirar até me esqueço!
Por favor, que o tempo corra agora,
está a ser difícil para nós a demora,
porque o desejo de viver cada segundo,
construir ambos o nosso belo mundo,
comer e plantar a horta do nosso amor,
ser presa e em simultâneo predador,
é mais forte, agora e sempre, te amo!


27/08/2004

Saturday, March 18

CLX

Maria

Se a vida desaparecesse sempre assim,
como um sopro de brisa com sabor carmim,
era como se viver não importasse!
Calma, a passagem por aqui
tem de ser efémera, infelizmente,
mas quem é forte p'ra ir em frente,
que faça melhor do que o que fiz!
A escolha da vida é mais fácil
quando se tem algo p'lo qual viver,
um amor querido, família,
uma casa, lar doce onde morrer!
A melancolia não tem alojamento cá,
a tristeza nua e crua me ama agora,
casou comigo, ela feliz, muito embora
tenha que dela me divorciar e já!
Não seria justo que triste ficasse,
a honra da mulher humana que morreu
é muito maior, caso eu viva e a louve,
mas o que dizer, dessa horta, da couve
suculenta, forte, viçosa, que nasce quando morre!
A visão de mim já se foi,
há muito que já não era,
poderia ficar louco pensando
que fora de mim sem ela,
aquela que me curou quando dói!
Sempre te tive amor, tia,
mesmo quando não parecia,
mesmo quando não aparecia,
morra, como tu, a dor deste dia
e vivamos, contigo, sempre em harmonia!


01/07/2004