Friday, June 30

CCXI

FV7

A força criativa vem de dentro,
mas também de fora, há vivências
que te dão ensinamentos, outras
que te enterram, ainda vivendo!
E a paz com que chego a estar
é a mesma com que o mar
desperta em manhãs de sol calmo,
nada como ter o espírito são
para poder enfrentar os males do coração!
Agora escrevo e as ondas falam,
agora vivo e os peixes nadam,
agora me calo e os homens falam,
agora morro e os monstros choram!
Pranto tal porque monstro sou,
agora, amanhã, no futuro,
provem que sano não estou
e eu vos darei um prémio, seguro!


21/06/2006

Thursday, June 29

CCX

FV6

Com os braços abertos para o mar,
a praia devolve o que este lhe dá,
tal como eu, por te abraçar,
ganho forças e começo a viver, já!
Há dias em que penso na nulidade
com que a vida se desenrola
e sempre digo que a pura verdade
é que a vida, de uma forma ou de outra,
quer o melhor para ti mesmo,
mas que a qualquer momento te degola!
Dorme o adormecido, mas desperto,
morre o suicida, mas com espírito vivo,
pois, se se matou, foi porque teve
a força suficiente, não como eu!

21/06/2006

Wednesday, June 28

CCIX

FV5

A raiva e a incredulidade
são armas fortes, armas vãs,
te esperava ansiosamente,
na cama, esperanças vãs!
A decepção e a realidade
são experiências comuns, irritantes,
acordado permanecia aguardando,
momentos crus, deveras irritantes!
Até posso começar a tentar entender,
mas confesso que de ti não esperava
tal atitude, por tal ficava
perplexo e algo triste, podes crer!


18/06/2006

Tuesday, June 27

CCVIII

FV4

Escutava o tocar frio
e falava comigo o ar fresco,
eu pensava nos homens
e naquilo que para mim valem.
É o mutualismo entre um ter
e prisioneiro então ser,
entre deveras nenhum haver
e livre, voando, livre ser!
Contudo, não existe simultaneidade
entre um e outro desses eventos,
por tal, haverá a decisão, verdade
seja dita, depois disfrutar momentos!
Não há que ter receio de enfrentar
a possível prisão prazenteira,
há que seguir a viver, respirar,
tendo no bolso uma toda vida inteira!


16/06/2006

Monday, June 26

CCVII

FV3

Na ilha estou, ilha sou,
pois tenho pensamentos meus
que mesmo aqui, distante,
continuam a viver em mim!
E por isso reflexivo estou,
oiço o que dizes, vocábulos teus,
e por vezes me calo, distante
do lugar onde agora respiro, assim!
Trovador dos poemas belos
era o que sempre sonhei ser,
mas, por enquanto, basta tê-los
guardados na gaveta, amadurecer!
Vamos ver se a estrada edita,
vamos ver onde a virtude habita,
seria interessante apresentar
o livro, chegar, ver e publicar!


15/06/2006

Sunday, June 25

CCVI

FV2

Os três anéis negros
transportam a energia vital,
tragédia mortal, entre os penedos
que escondem algo tenebroso!
O fluxo que sinto agora
a percorrer as minhas veias
está calmo, como tu, embora
não te possa comparar a elas!
És mais importante do que eu,
as minhas veias ou a minha vida,
porquanto eu morra, o meu
trabalho permanecerá, calmo,
na pequena gaveta perdida!
Morrerei um dia, tu também,
mas enquanto aqui estamos,
é melhor aproveitar, deitamos
os corpos desnudos, aqui e além!

13/06/2006

Saturday, June 24

CCV

FV1

As nuvens, o mar, o vento,
faziam parte deste meu dia,
me acompanhavam, com medo,
que por aqui minh'alma se perdia!
Mas eu logo os acalmei, dizendo
a verdade, que estou em boas mãos,
não há que temer, tremendo
quando te sentes próximo de seres irmãos!
Há momentos, instantes, alturas
em que não duvidas da tua sorte,
em que vives sem receio da morte,
em que não há obstáculos, coisas duras!
E tens que agradecer a quem,
com a sua presença, te faz bem!
Como é bom sentir-se em casa!

13/06/2006

Tuesday, June 6

CCIV

Pena negra

Corvo negro, não te encontro,
pensava que eras meu,
fugiste da minha presença,
agora lido com a branca descrença!
Retiro do baú as bugigangas
que de funcionar já se esqueceram,
morta a consciência da dor
pois não há nada vivo que a sustente!
Podias salvar-me do que não sou,
mas eu entendo que não te sacrifiques,
há situações na vida em que me dou,
mas eu entendo que não te apliques!
Estorva o silêncio, na nossa cama,
fala com os teus lábios nos meus,
envolve-me nos peludos braços teus,
lutemos enganchados na humana lama!

03/06/2006

Monday, June 5

CCIII

Perene

Tira-me o que permanece
atado a mim, perene
como as folhas que não saem,
como as gotas de chuva que não caem!
Duro, o coração de pedra
que não me concede a paz
que desejo, envolve a esfera
de ti, o ser que muito me apraz!
Há vida, mas não há morte,
divide-se a alma e lança-se à sorte,
esquece o que tens, pois eu não sou teu,
luta pelo que queres, eu não serei teu!
Chora pelo que é indefinido, isso atrasa
o movimento emancipado do fogo em brasa,
eu não aguento a solidão de ser teu,
morre, aniquila e chegarás ao céu!

03/06/2006

Sunday, June 4

CCII

Corpo em chamas

As ondas voavam, cresciam
para mim e eu sonhava
com os mais belos desejos
e os efeitos que eles produziam!
Corpórea a tua alma que tocava
o meu espírito fogoso, que beijava
a doçura dos momentos vivos,
há a possibilidade de me teres,
me recusas, de provares o mel
que te dou, agora e sempre!
Eu morri e tu viveste, a negra cor
possuiu o presente que sem amor
escorre como a água da fonte,
deixo que o povo a história conte!

03/06/2006

Saturday, June 3

CCI

Melodia 7 E

Elipses de movimento descontrolado,
fujo e enfrento o meu medo de lado,
falta a coragem para lutar de frente
para ele, falta que em mim seja crente!
Encarcerado numa prisão de raízes,
vejo escapar os momentos felizes
sem que culpa tenha eu disso,
sinto que ainda respiro, aliviado
por ver que ainda a isto resisto!
Entumescência interior eu tenho,
desde o cume ao sopé do monte,
quem me beija a alva fronte
tem que estar certo do meu valor,
tem que saber que necessito fulgor,
não aceito estar com o de espírito roufenho!
Envolto em véus que da pureza me escondem,
penso nas minhas vontades, no que respondem
as vozes internas que habitam em mim
e lembro-me que nunca fui assim,
apesar de o ser agora, neste instante,
o que leva alguém a mudar radicalmente
como talvez eu tenha mudado, aberrante!
Estarei eu karmikizado para ficar
estagnado a inspirar veneno vil
que me obriga a esticar o pernil
na hora em que eu menos quero,
no momento em que todo o severo
destino me empurra para o lugar
mais frio que existe, a minha alma
resiste, mas tudo o que subsiste é calma!
Exasperante agitação que nunca vem,
procuro ajuda de aquém e além,
analiso e depreendo por observação
do evidente que ela não chegará,
a menos que eu cometa a traição,
que eu engane o amigo de todas horas,
aquele com quem vivo ao deus dará,
nunca me deu a comer das doces amoras
que cultiva com tanto amor no seu pomar!
Escurecido pelo tempo bom corredor,
deixa o carinho a quem o quer receber,
espalha pelo mundo a lei do prazer,
cala a boca que discorda do amor,
mata o vício crescente da violência,
suaviza a feroz humana concorrência,
ensina que esperar nem sempre atrasa,
mostra a todos o caminho de volta a casa,
entrega o seu coração numa bandeja
e diz, já fui, agora quem quiser, que seja!