CCLXX

A gota do corpo unido

Gota a gota, desliza pelo meu corpo
o amor que me dás, tal como
a chuva que escorre pelo chão,
fruto do suor da nossa paixão!
Deixo a energia sair, deixo invadir
a excitação o meu corpo físico
e consigo transladar esse mesmo estado
a tudo o que me rodeia, ou seja, tu!
Tu que és o meu mundo e me capacitas
para derrotar qualquer chuva,
tempestade, todo o tipo de tormentas
que me têm exausto, sem energia!
E mais uma noite que chove menos
na rua, pois os verdadeiros elementos
fluidos são ambos os nossos corpos
que se entrelaçam, que conseguem
chegar a um momento único, se elevam,
se misturam na sua individualidade
até atingir a própria pluralidade,
até que dois sejamos um, um e dois,
números que se seguem, estão juntos,
menos próximos que nós quando dormimos,
partilhamos um mesmo leito, aquele
que nos acolhe, clima frio ou quente!
Palavras que se esgotam, explodem
moléculas e nós felizes, porque
o facto de que as estrelas se esgotem
não quer dizer que deixemos de brilhar,
com a nossa orgânica luz, cada dia mais forte!
E os sentimentos se escapam de mim,
fogem para estas linhas, eles assim
querem que tu os conheças, sem fim
desejam demonstrar-te que existe
um rio dentro, que não pára de fluir,
desagua em ti, um mar, em cada mútuo olhar!

CCLXIX

Melancolia celeste

O rosto do céu mostra melancolia,
não sei o que lhe aconteceu, seria
complicado que o meu também a mostrasse,
pois eu não tenho razões para tal face!
Prefiro deixar despontar em mim
todas aquelas tardes de sol limpo
que aquecem os comuns mortais assim
como aqueles pobres deuses do Olimpo!
Digo pobres, porque eu lhes roubei
um tesouro, nada a ver com o fogo
de Prometeu, a relíquia que furtei
é muito mais preciosa, de modo
que não a quero perder nunca, pois
isso significaria que caí em perdição,
malfadada, negra e cruel maldição!
Erradico desde já essa ténue hipótese,
prefiro pensar e viver este presente
que tenho vivido com muito agrado,
tanto se transforma em futuro como em passado!
E a glória de poder molhar-se
e continuar a sorrir já a tenho,
visto que sem dúvida eu me banho
a cada dia num mar que irrequieto
é uma delícia, vale a pena nele banhar-se!
Coordenada acção motora, fogosa,
entre tu e eu, com pétalas de rosa
e com chicotes de prazer se chega
a todo um paraíso onde ninguém chega
senão quem se dispõe ao sacrifício
prazeroso de corpo e alma, mútuo
intercâmbio de energias fluidas
que não cessam o seu fluxo contínuo,
estão de amor nosso plenamente embuídas!

27/03/07

CCLXVIII

Flocos protectores

As nuvens que escondem o céu azul
parecem querer dizer-me, tu,
faz o mesmo com o teu amado,
protege-o, cuida dele, abandonado
não o deixes e ele te retribuirá
com todas as delícias, o melhor que há
é receber essa onda de amor mútuo,
tal como a areia recebe sem duvidar
a rebentação carinhosa de ondas do mar!
E assim eu procedo, jornada diária
de carinhos, de afectos, vida solitária
não é o que eu pretendo e por isso
estou contigo, porque te amo, por isso
durmo com um olho aberto, para
velar o teu sono, porque nenhum mal
ousará enfrentar-me, urso feroz
rugindo à luz da lua e do sol,
sempre que seja necessário, por ti!
Mortal sigo sendo e mortal serei,
mas não por preferir que seja assim,
a minha vontade seria diferente, por mim
viveria sempre contigo, te amaria
e te amarei, pois não há condição
nesse verbo, no amor que sinto por ti,
na tristeza que nunca vivi
nestes últimos tempos que estou
a partilhar a minha vida contigo!
Restam dizer mais, muitas mais palavras,
mas deixarei essa tarefa para outro dia,
agora quero olhar-te, sem barreiras,
e que no meu sangue possa fluir a alegria!

21/03/2007

CCLXVII

Gélido leito

A cama sem ti parece vazia, fria,
não há como explicar a falta que
me fazes a cada noite fora da nossa cama!
Mas eu durmo, esqueço a solidão
momentânea dessas noites ao lembrar
todas as outras em que me acompanhas,
sinto, ao abraçar-te, o pulsar do coração
teu que não pára em nenhum momento
de dizer o que sentes por mim, de falar
com o meu, juntos os dois, como tu e eu!
E todas as confusões se desvanecem
ao captar o teu olhar com os meus olhos,
ao fixar em ti toda a minha atenção,
poder fogoso de poderosa atracção
exerces em mim, atracção pelo teu corpo,
pela tua personalidade, teu sou eu,
por livre e espontânea vontade,
me entrego em cada dia, feliz,
aos teus cuidados, aos teus carinhos,
aos teus afagos, aos teus desalinhos,
fazes com que sinta prazer, gemer
é uma daquelas coisas que liberam
o espírito, te olho e vejo o infinito
que és tu para mim, meu homem meu!
Nem a terra nem o mar nem o céu
conseguem ser tão vastos como tu,
pois para mim tu és o que tem mais área,
o que ocupa os territórios corporais
que por direito te pertencem, tais
que conquistaste ao amar-me, tais
que possuis todos os dias por atar-me
a ti de forma tão gloriosa, te amo
com toda a força poderosa do ser
que sou eu, todo teu e sempre disposto
a estar contigo, mesmo no calor de Agosto!

19/03/07

CCLXVI

Rio do diálogo

Sobre o nosso rio grande de palavras
se vão então construindo várias pontes,
por onde passeiam livremente momentos
que passamos juntos, felizes mutuamente!
O sol espreita, quer ver algo que brilha
mais do que ele próprio, zangado
com o facto de que isso possa ocorrer!
As nuvens por vezes tentam impedir
que o sol nos veja, mas se não o
conseguem, o sol nos abrasa, tentando
derreter-nos para que não brilhemos
tu e eu, mais do que ele, meu amor!
Quero que saibas que a teu favor
desprezo o sol e todas as estrelas
que ao ver-te a meu lado perdem fulgor,
ao ver-te, com os teus olhos doces
quando me observas, teu corpo
que de estar tão próximo ao meu
penso que somos pólos magnéticos,
que se atraem naturalmente, forças
que resultam num momento dipolar nulo,
o que quer dizer que somos
os dois juntos mais estáveis do que
se estivéssemos separados, eu anulo
energias negativas que possam existir
à tua volta, que não se atrevam a sair
de novo à superfície, porque o meu fogo
as queimará até que se transformem
em cinzas que o teu vento furioso
dispersará, deixando apenas o sol
que nos observa lá no alto ciumento,
nós juntos vivendo cada suave momento
porque perto estamos, longe o sol!

14/03/2007

CCLXV

O cerco da água-gás

As nuvens agora fecharam-se todas,
tal como eu espero o fechar dos braços
teus à volta do meu corpo, tal como
as nuvens, eu contigo estou no céu, bem alto!
Estão carregadas, cheias, esgotadas
as vagas de preencher um outro lugar
significativo no meu coração, um lugar
tão importante como o que tu ocupas!
Por isso restam espaços disponíveis,
para amizades novas, sobreponíveis
ao meu novelo de amor que desenrolo
a cada dia, junto a ti, meu amor!
Entre a madeira e o metal que me rodeia,
sinto já o calor de sentir-te perto,
tenho já a detalhada, enérgica ideia
de dar-te o acumulado de prazeres
que nesta semana me foi impossível dar,
estávamos os dois, separados, a viajar!
Mas quem não pára de viajar
é o meu coração, viaja constantemente,
quando penso em ti e me abstraio
do mundo exterior, tal é a ardente
emoção, lava de fogo que desce do
cume até à base do meu corpo vulcão!
E as chamas vivas alimentam o fogo
que junto com o teu fogo criam
uma manobra de diversão contra
a tristeza, o desalento, apagam
ardendo o fluir da água lenta
da solidão, não existe capacidade de fuga
à total alegria de respirar ao teu lado!
Quero e estarei agora e depois abraçado
a ti, porque nunca antes na minha vida vivi
um amor tão grande como o que por ti tenho,
marcado na pele como um profundo lenho!

05/03/07

CCLXIV

Mereclipse

Na hora do eclipse, há quem fixe
o olhar na lua, pois é onde acontece
o inesperado fenómeno, mas eu olhei para ti,
vi-te tão claramente, senti-te quente ali!
É uma sensação tremenda, nem lembra
a ninguém que de facto ainda não tenha
atingido órbitas para além da lua,
não ocorre em todos os lugares nem
a todas as pessoas, apenas a quem
de facto se sinta privilegiado, em uma
extrema onda de alegria pura e dura!
Sabes do que falo, sabes que te falo,
que te escrevo estas linhas, não calo
a emoção que grita nos confins
de um imenso mundo, o meu coração,
escapo de um universo exterior
que me faz deparar com a pior situação,
sentir-me só, inútil, sem ínicio nem fins!
Nada disso atravessa a fronteira
que separa o meu país contigo do
mundo por vezes demasiado desequilibrado
mas que é nosso afinal, está assegurado
que vamos disfrutar dele, eu e tu,
vamos estar juntos nele, não separados, eu e tu,
vou-te amar muito e tu a mim, sempre eu e tu!

04/03/07