Saturday, December 31

CXXVII

Encontro com o abstracto

A virtualidade que transparece
de uma pura gota que me aquece
é a imortalidade da nuvem branca
que não faz bela a ferida que não estanca!
Trocava um presente teu
pelo não sofrimento meu,
porque a dor é intensa
e a trago no meu peito
como de alimentos
está cheia uma despensa!
Articulado, o presente esquece
enquanto o poeta escreve a vida
de modo a que a ninguém interesse
viver sem achar a sua alma mais querida!
Encontro um campo de narcisos
e enlouqueço com seus egocêntricos sorrisos,
perco a vista ao olhar para todos
aqueles virtuais loucos, mais que loucos!
Vivo sem cegar por completo,
mas cego, de cegueira estou repleto,
porque não acho o caminho ideal
para fortalecer a relação máxima total!
Batalhar sem morrer
é como viver sem comer,
porque o objectivo de uma guerra
é sempre a mortalidade que,
com sua voz aguda, chega e para sempre berra!

23/02/2003

Friday, December 30

CXXVI

Amigo Juan de Tuineje

Estou mais rico, sem dinheiro,
mas reconhecendo por inteiro
a qualidade quando a vejo
e o calor que emana de um beijo!
Deste-me a conhecer, amor,
o poeta Juan Betancor,
poeta que, sem palavras, escrevia
e com a marca dia-a-dia
que era em sua alma gravada
e pelo seu engenho re-divulgada!
Não duvides quando afirmo
que poeta popular, sem estudos,
não é mau, é mais que bom,
porque a realidade assim transparece
e faz com que todas as pessoas
tenham presente o tom
da música poética popular,
aquela da qual não se esquece!
Termino então estes versos
de modo rápido e singelo,
a Juan Betancor, meu colega,
dirijo o sentimento mais belo,
uma visão para uma pessoa cega,
um amor para quem não ama,
uma vida para quem não vive,
e, finalmente, para ele, poeta,
uma santa morte para quem nunca morre!

21/02/2003

Thursday, December 29

CXXV

De grosso modo

Grosseiro como um grauvaque,
estaria a iniciar um ataque
de cruel e insana violência
para com sua singela inocência!
No entanto, a cruel besta chorava,
porque forças não encontrava
no mais negro buraco do seu ser
para fazer o inimigo perecer!
Isto era ridículo e emocionante
dado que o fraco era agora o forte
e o forte um farrapo ambulante!
Queria dizer-te verdades,
mas as ilusões que sussurro também o são,
visto que, para não dizer que não,
eu digo sim, sem dificuldades...
Usa como escudo meu coração
contra as armas vigorosas da solidão
e procura em mim o amor inexistente,
porque eu, para te acudir frequentemente,
tenho que te ferir com o meu bastão,
sem dó, piedade ou comoção!
O amor, se é assim que o chamas,
não é me dizeres que me amas,
sim, me envolveres em chamas,
me foderes enquanto me amas!

19/02/2003

Wednesday, December 28

CXXIV

Iaaaen em 4 tempos

Imagem que nunca apaguei,
vida com que nunca lidei,
emoções da ferida que nunca curei,
nunca pensei que pudesse vir a ser gay...
A verdade é que, com isso,
não estou triste, pelo contrário,
nunca vi problema em ser mestiço
e sempre quis sair do armário!
Armário que em mim nunca existiu,
porque a censura nunca em mim dirigiu
o comando do coração que se feriu
ao viver um amor que lhe fugiu!
A diferença entre viver e morrer
é indiferenciavelmente pequena,
mas, entre doer sem saber e amar com doer,
prefiro a última, porque me motiva a pena!
Eu possuo um corpo que é só meu,
embora nunca recusei que fosse, um dia, teu,
vivo no desafio de encontrar um fofo meu,
mas não quero que julgues que irei ser só teu!
Não, eu pertenço à natureza e ao mundo,
tudo o que sei é que gosto que me afagues,
essas carícias tornam o êxtase profundo,
e, por isso, por favor, pecço-te que o fogo não apagues!

06/02/2003

Tuesday, December 27

CXXIII

Paju of the isle

Como evitar pensar
que o dia irá chegar?
Tento não imaginar
nem uma imagem definir,
mas torna-se difícil não te ver,
quando mais por ti venho a sentir!
Falar contigo, é bom e aumenta o ego,
me fazes sentir como se fosse
de ouro puro um prego!
Não sinto necessidade de verter lágrimas,
porque essas, se escorressem,
seriam absorvidas pelas tuas palavras,
fofas e queridas, suaves e sensuais,
essas todas que me enternecem!
Da ilha veio o Sol, mas não a luz,
continuo de enfiado capuz
sobre as paisagens bonitas
que essas tuas ilhas pequenitas
possuem para mostrar,
meu passaporte para viajar!
Seria fantástica essa jornada,
mais feliz e emocionada,
com a vida numa mão
e na outra o coração,
sigo feliz com as malas,
esperando nelas trazer amor,
e não chegar com um amargo rancor!

04/02/2003

Monday, December 26

CXXII

O que resta agora...

Há tanto tempo que não beijo
que nem sinto de o dar o desejo!
Há muito tempo que não sinto
o doce aveludado dos
meus lábios de mel,
a beijar a tua pele,
com amor tão visível!
Durmo com todos os sonhos,
alegres ou tristonhos,
eles satisfazem-me o amor teu
que não sinto à minha volta!
Quem me dera saber
como certeiro escolher
o cavaleiro do meu amor corcel
que saiba beijar o doce mel!
Tocar guitarra minha
com tuas mãos quentes,
seria uma divina prendinha
para quem só vive de presentes!
Estes que não estão ausentes,
que me tocam, quentes,
no corpo que resplandece sem calor,
no corpo que simplesmente suplica,
acaricia-me, tu, sim tu, meu amor!

17/01/2003

Sunday, December 25

CXXI

Fugas do diabo

Vive com a angústia de
mal me não teres feito,
de me não teres cravado
uma adaga no peito!
Poderosa, uma vida
que escorre, como
do garrafão a bebida!
Silenciado pelo poder supremo,
eu já somente muito tremo,
porque é um sinal máximo a impotência
contra de estar comigo a desistência.
Parece que correm mais
a fugir de mim, por que razão
eu não sei, essa foge aos meus
pensamentos mais racionais!
Escrevo isto para reclamar
o facto de mim se afastar
a população mundial,
como se eu lhe fizesse algum mal!

06/01/2003

Saturday, December 24

CXX

Thurok

Se soubesses o frio
que em mim fazia,
dormindo sozinho
na cama gélida e fria!
A passar voando
como pássaro que pairando,
escolhia ser livre
e por tal voar!
Mas qual surpresa,
qual espanto,
que se olhou reflectido
num espelho polido!
Ao ver a imagem que dele vinha,
viu que era pesado demais para voar,
mas que o dom imenso de abraçar forte
era seu caracter, tal como a uva é da vinha!
Eu pensava nele, como um urso,
com um corpo que se mostrava robusto,
não havia frio que em mim se entranhasse,
porque a ele eu pedia que me amasse!
A realidade que não surge paralela
a uma vida que em tempos fora bela
é aquela que me acena à janela
da mortífera e sagaz caravela!
Arktos grego, vem a mim e entra em mim,
me possui como se de todo o mundo eu fosse,
pelo menos eu viveria bem assim,
se a dor não me estrangulasse o pescoço!
Corneana, és a rocha que é ícone da vida,
não brilhas nem te demonstras muito alegre,
vives de escura roupa vestida
e engoles em ti o fogo que interior ferve.

30/12/2002

Friday, December 23

CXIX

Depois do Monte Hill

Vida morta não existe
e, por tal, o que subsiste
é morrer vivendo,
da vida se esquecendo!
As cores que existiam em teu corpo
se desvaneceram, desde que vives morto,
és uma bactéria anaeróbia
num mundo de profunda discórdia!
Desejar a morte é natural,
depois de sofrer tanto mal,
mas continuar a morrer, viver,
é como só restar esquecer, sofrer!
Lutar por não morrer
deveria ser o objectivo de todos,
mas como assim proceder
quando as pessoas que mais vemos
nos parecem frutos podres?
Ainda além de estragados,
conseguem ser padronizados,
como se houvesse alguma glória
em ser do próximo uma cópia!
Sejam diferentes, vivam descontentes,
mas sejam todos iguais na diferença,
porque essa seria a natural crença,
todos iguais, todos diferentes!

29/12/2002

Thursday, December 22

CXVIII

Nvmca

Mostra-me o caminho
dos teus braços
e eu não me cansarei
de criar contigo
eternos laços.
Cobre meu corpo fiel
com teu corpo de veludo,
podes conduzir-me, contudo
necessitas de o saber fazer,
é fácil, basta um gesto executar
e uma palavra dizer!
Amor, é suficiente
para arrastar meu corpo
para o fim do mundo,
para todo o local,
imaginário ou real!
Não há superior interiorização
que o amor no coração,
essa é a inegável notícia!
Um poeta amargurado e sofredor,
pede e implora por encontra um amor,
morre com sede de uma simples carícia!

28/12/2002

Wednesday, December 21

CXVII

Natal

Não consigo encontrar inspiração
para contar o que flui no coração,
que coragem vou ter de adquirir
ou a que montanha irei subir!
A verdade é que não há Natal
quando no íntimo navega o Mal,
dado que este é escuro, contudo, fascinante,
embora duro, por vezes, triunfante!
Torção interna vou sofrendo
porque a outro amor me rendo,
o que me aquecia apagou-se com frio
e o que me aquece é novo e luzidio!
A sua concretização é imaginária,
pois envolveria guerra sanguinária,
mas é melhor acreditar no complexo
do que no irreal sem nexo!
Libertar a mente de um amor
é como convidar para jantar a dor,
mas, quando termina o processo,
é da felicidade o regresso!

24/12/2002

Tuesday, December 20

CXVI

Mural da pestana

Hoje necessito do meu espaço,
mas o que vinha mesmo a calhar
era o dono de um abraço
pronto a este me entregar!
Não há dúvida de que existe
atracção entre dois corpos,
entre o meu e o teu,
entre o teu e o meu!
Troço do destino que aparece
e de súbito me enlouquece,
pois só sabe abraços retirar,
para me deixar amargurar,
para me ajudar a me matar!
Queria ver o que ele faria sem mim,
visto que é um parasita,
seria morto se eu fosse morto assim,
não viveria se a minha vida é finita!
Quando choro, é pela dor
de, vezes sem conta, procurar o amor,
se calhar erro nos locais onde procuro,
tenho que, claro, ultrapassar o meu muro!

05/12/2002

Monday, December 19

CXV

Endo Draco

Interioriza o que sentes,
não penses que me mentes,
a tua vida é só tua,
esse carro não pára na minha rua!
Não subestimes o teu poder
e nem te queiras demais esconder,
a vida foi feita para viver,
isso significa que o que precisas de ser
é um osso duro de roer!
O amor que me apresentas
não se apresenta inovado,
é sempre o mesmo,
sofrido, alegre e malvado!
Precisas de decidir,
será que o rio irá fluir
ou uma barragem irás construir?
O conselho que te entrego
é comentário de um cego,
vai filha, enfrenta o dragão,
mas nunca te esqueças,
ouve o bater vocal do coração!

05/12/2002

Sunday, December 18

CXIV

Grosso de linguagem

Cabelo ondulante,
que se enrola brilhante,
ao sabor do vento,
naquele momento,
me pareceu me afagar,
num suave passar,
e então veio a saudade,
e, junto, a felicidade!
Gota solitária,
que se soltou da ferida,
tornou estranha a vida,
ficando esta precária!
Interessante seria
se a luz do meu dia
não se apagasse
nem que o vendaval soprasse,
e assim tranquilo estava,
com o rio que não secava,
com a dor que não voltava,
com o amor que me beijava!
Chorava por não me foder,
me fodia para me não ver chorar,
voltava por não me ter,
me tinha para sempre poder voltar,
não ligava muito ao meu desejo,
desejava antes que lhe desse atenção,
feria, sem medo, o meu coração!

02/12/2002

Saturday, December 17

CXIII

Pawelium Najdekonium

A maior prova de amor
está em ver-te por tempo menor,
demonstra aquilo que sinto,
apesar do teu fogo meu ser extinto!
Sinto a grande paixão,
aquela que, num sopro,
derruba com um soco
o teu forte coração!
Chorando a dor passada,
não há quem venha por bem
e me diga ao ouvido, está sem
desamor, é esta a hora aguardada!
Ninguém que me diga,
tens menos olhos que barriga,
és o homem que mais adoro
e a criatura por quem imploro!
A voz que, entupida, consegue gritar,
eu sou capaz de te poder amar,
basta comigo quereres estar
e juntos grandes fodas podemos dar!
Voltas e reviravoltas na cama,
vendaval de emoções, secreções
que se soltam na hora mais exaltada,
aquela em que o infinito te chama,
em que deixas este mundo e, por magia,
entras em êxtase profundo, que belo dia!
Viver esse momento
como algo suculento,
lambendo corpos suados
como se fossem gelados...
Abraços que aquecem
a maior das lareiras,
beijos que fundem
as mais resistentes chaleiras!
Na vida não há muito mais
do que o contacto físico,
esse que nos faz sentir
calor ou frio, dependendo
do recíproco afastamento
dos corpos que estão fervendo!
Aliás, para amar,
é preciso haver muito sexo,
porque esse é o tempero a juntar
a uma relação com puro nexo!

28/11/2002

Friday, December 16

CXII

Condicional mono-aditiva

Se pudesse ser tua roupa interior,
para aconchegar as tuas partes íntimas,
e demonstrar-te meu grande amor
através de longas e fofas carícias!
Seria como um sonho
projectado num mundo mais real,
em que todo o futuro é risonho
e o amor meu por ti não me causa mal!
Se pudesse ser, no Inverno, teu cobertor,
daria pulos e faria uma festa efervescente,
porque não é garantido para toda a gente
poder estar enrolado, numa cama, com seu amor!
A dureza de uma vida é medida
em unidades de sensações, sentimentos,
que, por vezes, de tão violentos que são,
esfolam, qual facas afiadas e curvas,
viveria feliz, sem medo nem temor,
esqueceria para sempre o poço onde fundo estive
e enterraria o monstro mau que em mim vive!
Porque nada do que falo acontece,
cada dia a mais de viver a alma esquece,
e, por tal, há, em cada dia mais
um átomo do corpo que enfraquece,
retrazendo dores internas, infernais,
que me forçam a pedir, desaparece!!!

19/11/2002

Thursday, December 15

CXI

Tratado de actualidade

Mais um dia que passa
e eu a cair na desgraça
de ter que dormir sozinho!
Não há dúvida alguma
de que a malvada bruma
me encobre completo o caminho!
A continuação do ano
vai ser vivida, para já,
pensando no que no futuro virá,
será o destino tirano?
Percebes o que explico,
se entenderes do que abdico
em nome de um pretenso amor
que irá pretensamente aparecer
com pleno e total vigor!
No entanto, qualquer especulação
ainda cai por terra,
porque, tendo a realidade presente,
a falta de amor é uma correcta observação,
feito por quem, com a voz perto de mim, berra!
Cumprimento a minha ternura
e digo-lhe que se mantenha acesa,
mas ela, para minha amargura,
responde-me que, por agora, está presa!
Correntes de aço asfixiantes
precisam de alicates de amor cortantes
para libertar o mel doce meu
que será decerto libertado
para os braços de quem,
ao agir de uma maneira, o mereceu!

15/11/2002

Wednesday, December 14

CX

Os 4 pilares

Será o impossível
difícil de alcançar?
Poderá o incrível
ter momento para chegar?
Respostas, não as tenho,
se as tivesse, seria feliz,
mas, também, o sou agora,
não deixando ela ir embora!
Coragem, não a descubro,
se a achasse, seria bravo,
mas, também, o sou agora,
não a deixando ir embora!
Responsável, não consigo ser,
se o fosse, estudaria muito mais,
mas, também, o sou agora,
não empurrando a vida para fora!
Amado, não sou nem, talvez, serei,
se o obtivesse, seria Jorge,
mas, também, o sou agora,
nunca permanecendo morto embora
o pensasse por alturas
em que somente loucuras
parecem ser as respostas
corajosas e responsáveis
e às quais o amor nos incita!

03/11/2002

Tuesday, December 13

CIX

Celtibehria

Quando se é caloiro,
tem que se suportar a praxe
que, às vezes, dolorosa até mais não,
por ser deprimente festival de humilhação!
Mas o que a fazer temos
é esquecer e continuar o ano,
mas o que pensar quando o sagrado
lento se transforma em profano?
A mudança nunca foi nossa amiga,
trouxe boas, trouxe más,
mas, no fim das contas finais,
acaba por ser só cantiga!
Choradinho frio e manhoso,
nem sempre a vida resulta,
é preciso que o tiro glorioso
seja lançado da melhor catapulta!
Não há como deixar viver,
mesmo que nos faça mal,
porque aprendemos a entender
que tudo possui um final!
Enviado da terra Eros,
encontra nos celtiberos
a beleza até então vestida
que, por suas mãos, foi despida!

29/10/2002

Monday, December 12

CVIII

4, 30, Dias

4, 30, dias passaram
desde que bolo não houve na mesa,
desde que afastar foi a certeza
e chorar minha natureza!
Solitária, mas não só,
porque se de ti tinha dó,
muito mais de si penava
e só no adeus acreditava.
Ainda hoje sonha com o amor,
porque não há um único rumor
que lhe diga que o regresso é certo
e tudo lhe parece demasiado inerte!
Estímulos da visão, externos,
sugam os pensamentos modernos,
transformando-o em autómato
vivendo com o coração no estômago!
Tudo o que sofre não é, em si, plural,
porque duplo não é seu problema,
mas sim a dor intensa infernal
que se implementa no sistema!

24/10/2002

Sunday, December 11

CVII

Sonho neutro

Sonhei com um homem
que preenchia toda uma vida,
e então beijei-o, abracei-o
e fi-lo prometer que
seria para sempre minha guarida!
Agora chove em mim
e fico a pensar enfim
nos momentos bem loucos
que passámos a dar socos
na tristeza das nossas vidas!
Todavia seria bom relembrar
que não há bem melhor
que uma vida de amor
em que nos podemos entregar
às alegrias fortes e divertidas!
Ele era grande e garboso
no seu fato de trabalhador,
não estava nada primoroso,
mas conseguiu transformar
a dor em prazer supremo!
O beijo que me deu
foi da sua vida pioneiro,
mas quem o recebeu
pensou se seria o primeiro
ou de uma longa fila o extremo!
Resumindo o raciocínio,
não podemos refutar o amor,
porque, quanto mais o matamos,
mais se sente da morte a dor!

15/10/2002

Saturday, December 10

CVI

OLADOF!

A ingenuidade não se compra,
tem-se como deficiência adquirida
num sistema de inocência permitida!
Quando é muita, até enjoa,
se é pouca, já não destoa,
na medida certa, claramente
que é uma característica muito boa!
Se eu pensasse nisso,
descobria que o viço
desta questão toda
é falar ou não em foda!
Quem ler isto ingenuamente,
vai ficar muito chocado
com a aparição da palavra
neste singelo poema!
Quem ler aquilo perversamente,
irá permanecer extasiado
com a aparição da palavra
neste interessante poema!
Quem ler tudo correctamente,
irá estar de apoio cerrado
à aparição da palavra
neste épico poema!

13/10/2002

Friday, December 9

CV

Não porquê?!

Não concretizo as acções
de engolir, deglutir e digerir
tudo o que comigo se tem passado...
Não percebo as razões,
tal como as descortinar e explicar e elucidar,
pelas quais me vejo do meu amado afastado...
Não sei se interpretas tu
essa personagem,
dado que o teu corpo nu
é apenas agora uma miragem!
Não penso em ti todo o dia
como há tempos pensaria,
mas há deveras momentos
em que tenho teus pensamentos!
Saudade não existe para mim
dado que já estou no fim
de um processo de incineração
dos mais fundos sentimentos,
de uns quaisquer momentos,
que habitam meu coração...
Enfim, esqueço e enterro
o tesouro, verdades absurdas,
à espera que a futura pá de ferro
o desenterre, verdades ursas!

10/10/2002

Thursday, December 8

CIV

Cinzento da cor da pele

Como falar o que tenho para falar,
como dizer o que tem de ser dito,
quando tudo o que posso dizer é,
simplesmente, és bonito!
Mordaz capacidade argumentativa
seria para mim suficiente,
porque numa só tentativa
te faria pensar diferente!
Encontro na vida alegria
quando feliz consigo estar,
o resto dela em agonia
por não te conseguir achar!
Vem ter comigo de novo,
ó vento forte e bom,
da maneira que anda o povo
é melhor subir o tom!
Embrutecido, a dor,
vivendo numa barraca
feita de metal e estaca
só para durar até onde for!
As trutas no mar não vivem
e mesmo assim são especiais,
tu, que eu procuro, és quem
a me encontrar se atrasa mais!

24/09/2002

Wednesday, December 7

CIII

Dormir o sono acordado

Estive hoje mirando o rio
e parece ele que de mim se riu
enganas-te a ti próprio
dizendo que estás melhor
quando na realidade crua
o teu estado é bem pior!
Podes tentar melhorar,
a areia dos olhos tirar,
a máscara da cara puxar,
mas nunca irá chegar
ao dia da felicidade real!
Trazendo recordações boas,
nunca esqueças pessoas
que um dia te quiseram bem.
Trazendo lembranças más,
nunca lembres pessoas
que se chegaram a ti e depois zás!
A traição natural
é da condição humana,
todo o comum mortal
pratica isso toda a semana!
Derramando lágrimas puras,
não há quem se levante do chão,
passará mais amarguras
que os condenados da prisão!
Duradouro, esse castigo
não chegará a ser cumprido,
pois a morte se abate rápida
sobre os que já têm gravada lápide!

20/09/2002

Tuesday, December 6

CII

NOICHA

Na chuva revolvem-se ideias
como as abelhas nas colmeias,
e então podemos reflectir
acerca do que estamos a sentir!
Oleado de cores infindas
que, por serem tão lindas,
nos levam a pensar bem
nas maravilhas que o mundo tem...
Invenção da água doce
se por um momento fosse
a chuva a cair em mim
e me deixasse seco enfim!
Cloração completa e cerebral
como o navio no canal
vagando de onda em onda,
tentando ultrapassar a revolta redonda...
Homo sapiens voador
que, por somente ter tractor,
contenta-se em ser agricultor
e da horta é guardador!
Agora no fim da sua viagem,
começa a grande contagem
de todos os dias perdidos
na procura da miragem
e dos sonhos estabelecidos...

20/09/2002

Monday, December 5

CI

Maré na garrafa

Temos que ter fé
na mudança da maré,
porque o mar, quando acalma,
enche de mansidão a alma!
No mar como na terra,
acontece sempre o mesmo,
só quem muito pouco erra
se consegue safar do abismo!
Quando a inspiração é parca,
encontram-se palavras indefinidamente,
guardam-se ideias na arca
e inventam-se novos conceitos na mente!
Jogos imensos eu encontro,
não há hipótese de falhar,
serei a bela ou o monstro,
serei na terra ou no mar!
Quando o amor muito falta,
não há ventos de bonança,
somente resta a esperança
de encher novamente a garrafa alta!

15/09/2002

Sunday, December 4

C

A altura de partir

Acenei um gesto de adeus
a todos os sonhos meus,
para o futuro me vou dirigir
de modo à morte não sucumbir!
Disseste que o amor é eterno
somente quando termina,
isso faz do nosso amor
um eterno estado!
Vou conseguir, por nós dois,
não te vou mirar antes ou depois,
a vida vou viver de ti longe,
tu vais ser, para mim, por uns tempos,
como o diabo para o monge!
Na vida aprendem-se muitas lições,
sem dúvida alguma que viver é bom,
mesmo com as mais severas punições,
tudo merece ser vivido sempre!
Eu nunca te vou esquecer,
espero que saibas disso,
tudo o que sempre falei,
não eram palavras de um obcecado!
Vou fazer como disseste,
vou estar contigo num futuro próximo,
nunca vais poder pronunciar palavra agreste,
quando eu, para ti, for do amor um sinónimo!

08/09/2002

Saturday, December 3

XCIX

Felosidades

Intragável, o sabor
que me deixaste na boca,
entregaste-me a dor
e deixaste-me com alegria pouca!
Suicídio relativo
em que me largaste,
esqueceste o amor que te dei
e de pronto me renegaste!
Vá, dá o pontapé final,
acaba com a vida total,
mostra-me o caminho da morte
e eu morro assim mais forte!
Olá e adeus,
é assim que te cumprimento,
porque dos sentimentos meus
nem sequer teu entendimento!
Olha para mim e vê
se já estou na negra esquina,
aquela que mata bem
mesmo sendo pequenina!
Esquarteja-me no momento
em que eu me tornar violento,
para depois poderes dizer,
valeu a pena te foder!

07/09/2002

Friday, December 2

XCVIII

Árvore sábia

Árvore de letras garridas,
de que tu entendes mais?
Eu, como vejo todas as vidas,
entendo as leis dos casais.
Como pode isso ser possível
quando o amor em ti é impossível?!
Não sei, humana gentil, só te posso
dizer que a ideia é verosímil!
Por quê se tu nem sequer
tens árvores à tua volta?!
Não consigo entender
a razão dessa tua revolta!
A raiva vem cá de dentro
e sabes qual a razão?
Não sei, humana, não,
mas sei que é um mau sentimento!
Eu vivo perto do amor,
mas o destino não mo quer dar!
Então, filha, porque tens tanta dor
nesse teu pobre coração a bombear?
Não consigo atingir os objectivos
a que me propus há pouco!
Qual a razão desses falhanços,
é a falta de tanto amor, pouco?
Não me peças para explicar
o que não tem explicação,
o que eu tinha para falar
já não possui qualquer razão!

07/09/2002

Thursday, December 1

XCVII

Torna a vida negra

Nuvem cinzenta, gélida
pairas sobre o tecto de mim,
deixas negro, enfim,
mostras a verdade intrépida!
Prémio da irracionalidade,
encontra-se na bestialidade
apresentada nas bestas humanas
que exterminam até raças arianas!
Oncologia, solução procurada
pela gente cancerizada,
em suma, devorada pela doença
que o amor menos mata que...
Visão enganosa e ilusória,
encontras na minha história
situações hilariantes, desesperantes,
dramaticamente horripilantes,
viver a vida que eu vivo
é mais duro que ser gestor
de um indefinido arquivo!
Não derrames sangue
que, por te deixar exangue,
te retira a infelicidade de viver
e te oferece a alegria de morrer!
Opérculo do coração inválido,
a voz que tenho está morta,
porque, no seu último grito esquálido,
ela disse, vou estar amanhã morta!
Divertida, morte com música,
é o sonho de qualquer pessoa,
mas nem sempre a ideia é boa
nem sempre a morte é boa!

07/09/2002