CCXCV

Pó sedimentar

Sobre o pó que tentamos limpar
existe uma camada de emoções,
momentos gravados, canções
que soam eternamente lindas,
a vida minha contigo, a tua comigo,
nem sempre estamos de acordo,
mas sentimos ambos o mesmo essencial
prazer da mútua companhia,
estamos dinamicamente habituados
a juntar as infinitas moléculas
que compõem os nossos corpos,
de noite nus, um contra o outro,
voando nos céus pré-matinais,
esses que só os sonhos povoam,
esses que apenas se deixam
observar pelos enamorados,
loucos de desejo continuamos,
com a ânsia de absorver fluidos
por cada poro da nossa pele suada,
faz-me gozar, meu amor, sempre!
Completa o círculo do qual
meia lua sou, esperando-te
meia lua, meia laranja, meia batata,
te comeria até saciar a minha fome,
mas como esta é insaciável,
terei que comer-te, saudável
estarei sempre, visto que és nutriente
e és meu amante das noites frias
e suor matinal quando quente
se torna o clima, debaixo dos lençóis!
Celeste aurora ursino-boreal,
quero que sejas fenómeno eterno
na minha existência mera e vívida,
sei que queres o que quero,
fazer parte, como eu, da nossa vida!

15/01/09