Tuesday, January 31

CLVIII

Olha amor

Olha, não consigo escrever,
isto é mal de poeta enamorado,
se enamorado não estivesse,
escrever seria mais fácil, mais que tudo!
Contudo, eu por ti amor tenho,
por isso me distrais das palavras,
concentro-me mais nos actos
que realizamos na cama, no sofá,
no chão, na praia, na rua,
enfim, demonstramos o nosso amor
enquanto, desavergonhada, a lua
espreita tudo com os seus olhos,
vê que nos amamos e o divulga
quando cheia brilha no escuro!
Não me apetece fazer rima,
nem daquela rasca, pequenina,
tenho-te a ti no pensamento,
requeres total empenho mental,
visto que sofres do mesmo mal
que eu, amamo-nos, n'é verdade?
E por nos amarmos, a vida é bela,
enquanto dura a época de cinderela,
qualquer dia é da varina dia
e por nos amarmos, a vida é fugidia!
Mas não me preocupo com isso,
quero viver contigo, e o reboliço
a que estou sujeito cá dentro
só prova que és importante,
só quem não me deixa indiferente
consegue ter-me inteiro total,
e tu me atrais como luz
para o insecto que sou afinal!


29/06/2004

Monday, January 30

CLVII

Trovão hoje

O trovão atacou de novo,
quando nem som já se ouvia,
mas nunca é pura a alegria
quando parece existir
uma conspiração para revelar
o mau que a vida tem para dar,
para me tirar o tempo de dormir!
Entende que eu te perdoarei,
porque sem ti não viverei,
mas a dor que foi canalizada
vai ser difícil de esquecer,
porque foi decerto bem cravada
na tábua do coração a bater!
Mas volta, diz-me que és meu,
eu mando a dor dar uma curva,
esqueço a noite que foi turva,
abro a porta do salão de amor teu!
Quero ver qual o desfecho
desta cena tão dramática,
si sigue doliendo en mi pecho
ou se ataco a dor e revoluciono
o sentir da noite e do dia,
torno a vingança coisa prática,
visto no Japão o meu kimono
e retrago a minha alegria!
Nunca digas que eu não te amo,
isso é apenas uma possível desculpa,
cada um tem de acreditar no que
o outro diz, ou então bem nos lixamos,
lá porque te sentes só e triste,
a verdade é que me sinto assim também,
só te peço, não me deixes só e triste!


07/06/2004

Sunday, January 29

CLVI

Comerciando

No auge do seu trabalho,
os operários do concerto
produziam já o som do
que havia de ser para sempre!
A comemorar uma história
que nos trouxe liberdade,
esta que nos livrou da escória
que nos trazia enfermidade!
Não há escolha a fazer,
entre democracia e ditadura,
obriguem-me a na última viver
e mando erguer minha sepultura!
Com o som surdo dele a cantar
percebo que posso esperar
pela chamada do dia,
hoje o sol não me arrepia!
É apenas ter paciência,
os NA me ligará,
e se não ligar,
tanto se me dá,
porque no fundo ele perde
mais que eu, que perdi
a ilusão de tê-lo agora
vivo na esperança, embora
nunca viva de novo o que vivi.
Prudente é o tempo,
que anda devagar se precisa,
traz-me a ira, sempre
que eu preciso do seu auxílio,
ele me abandona, qual indecisa
vendedora de rua em exílio!


22/04/2004

Saturday, January 28

CLV

SOE

Ao tocar na folha,
senti vontade de dizer
o que dentro restolha,
o que quero fazer!
Quero enlouquecer,
perder o que ainda não perdi,
lucidez mental de aprés-midi,
num mundo estranho viver!
Mas agora me apercebi
que nesse mundo já viv'eu,
por isso deixo-me aqui,
nesta terra a quem me deu!
Com a batida forte,
entro no ritmo claro
que precisava, o faro
do cheiro intensificador
de viver com o som nítido!
Esse som que me provoca,
intensamente me desloca
p'ra fora de mim, tudo
o que não é chorudo
fica escondido interno!
Odor finamente pútrido
exala de ti, meu inferno,
escreve melhor que não
há p'ra ti salvação,
mortal és, foste e serás,
até que morras novamente,
ó d'Olissipo Satanás,
bebe e morre, de repente!


22/04/2004

Friday, January 27

CLIV

De novo o muro

Não estou perdido,
mais confuso,
a verdade é um embutido,
disperso, efémero, difuso!
Mas é sincero tonto,
perder o que não se tem,
trocar a vírgula p'lo ponto!
Quando chegar a ter,
não sei que irá acontecer,
porque nunca tive.
Ilusão, nada mais,
coisas boas sim,
mas enganadoras, no fundo,
vão então o muro construindo!
Pensei que se tivesse dado
deste a final implosão,
mas parece que parado
não foi o projecto-construção!
O problema posso ser eu,
mas talvez não seja solução,
tema agora quem não temeu,
chore já quem não tem coração!
Os ciclos sempre se completam,
não há nenhum que unicamente dure,
viver assim é algo duro,
mas sou eu e a vida que me dão!
Que conquistei, qual Afonso rei,
mas que total não possuo,
senão talvez tivesse ordenado
a proibição per omni day
desse maldito, podre muro!


12/04/2004

Thursday, January 26

CLIII

Kaputiv

Ao usar a verdade como instrumento
para facilitar-me a vida sã,
fui deitar no lixo, ao esquecimento,
a possibilidade dum amor, agora vã!
Pergunto-me se foi certo,
agora apenas penso no perto,
mas é mais uma marca cravada
por mim, na pedra encarnada.
Com a situação controlada,
o descontrolo é perfeito,
dentro de mim, tudo nada,
dentro de ti, meu peito!
Correr para trás, é possível?
Sim, claro, o teu movimento
é claramente em sentido negativo,
mas precisavas agora
de um momento, a hora de
sentir o bem, livre, contigo!
Não pergunto mais nada,
porque me não sei responder,
o que quero é, já, viver!
Posso ter quebrado mais um vaso
no jardim biológico quatro,
mas quem agora ficou raso
foi de novo da motivação o rasto!

12/04/2004

Wednesday, January 25

CLII

Fazer nada

O que tens feito?
Nada de jeito,
rima e é verdade.
Inconclusivamente conclusiva,
a sua resposta surgiu
como se fosse uma missiva
a suplicar salvação!
Qual distância é a maior,
diz-me lá tu que entendes,
qual das angústias é pior,
conta lá tu que não mentes!
Apareceu num instante
a ideia na cabeça,
porque apareces assim,
do nada, sem autorização,
eu não preciso de ti constante,
volta quando eu te esqueça!
Carbono essencial,
fofo és tu da minha orgânica,
é fácil e intuitiva a quântica
que nos revela o sentimento,
tem muitas leis por descobrir,
é vital de ti perto estar,
para em força resistir
às forças que me puxam
em direcção a sítios
para onde não quero ir!
Volta, guardião,
para proteger o que frágil é,
não há apenas um minuto
em que não pense em ti,
porque será que ocorre
esse facto, diz-me, meu bébé?
Amo-te tanto que penso
que todo o tempo dura
mais quando tu estás longe,
volta, para mim, só hoje!


14/03/2004

Tuesday, January 24

CLI

Vício

Aqui estão elementos vitais,
eu semi-desnudo ao sol,
criança a brincar no areal,
é tudo vida, e nada mais!
A jornada de mau início
está a ter alguma virtude,
saber quando ir e escolher
a acção de me afastar
de algo que, não sendo vício,
é diário, ainda tem de ser...
Como vou conseguir dizer
que longe é o meu lugar,
sem ter medo de inscrever
o ódio no que sempre me amou?
Às vezes tenho tantas dúvidas
que duvido do meu QI,
mas mesmo aquelas mais obtusas
vão construindo de mim o BI!
Não há janela que me ponha
a ver juntos eu e tu, agora,
mas para a morada do coração tua
tenho livre trânsito,
pública é, para mim, essa rua!
Se me deixasses ir contigo,
será que o conseguiria,
esquecer-me de mim e do vício
que me assola, dia após dia?
Se não sabes que vício é,
procura dentro de casa,
talvez o tenhas tão ao pé,
que o fogo dele te abrasa!
E se não chegaste lá,
não serei eu quem to dirá,
mas, sim, o tempo e a vida,
dois entes poderosos e virtuais,
comandantes dos demais!


03/03/2004

Monday, January 23

CL

Da russo

Com o russo o dia comecei,
sem o meu amor aqui ficarei,
na minha cidade natal,
neste ó sim, belo Portugal!
Ao ouvir o som que tenho
bem presente na memória,
repete-se a solidão, em
conformidade com a'stória!
No entanto, devo ter
a companhia do irmão,
mais para o fim do dia,
ó sim, que bela alegria!
Estou melancólico hoje,
o sol deixou de brilhar,
por mim, por todos,
haja escuridão sempre,
para eu me lembrar de ti,
luz que ilumina longe
a terra de muitos poucos.
Terra de muitos loucos,
vivendo como podem e também
tentando enobrecer o mundo,
tendo, no entanto, muito que tentar
para no alvo ali acertar!
Calma, gajo, não vivas assim,
toda a cor que é carmim
pode desmaiar até branco pousar,
mas o que é a vida afinal,
senão uma estrada para percorrer,
obstáculos de pronto ultrapassar,
momento certo para morrer?

01/03/2004

Sunday, January 22

CXLIX

Rei do quase reino

Como é possível que a alegria
seja tão efémera quanto a vida,
sempre que penso em ti, a luz
que brilha dentro irradia amor!
Mas como fazer com que a distância
se dissipe em minha frente, já,
para te encontrar desnudo,
teu corpo meu, relaxado no sofá!
Quero-te tanto, no físico-espiritual,
és, sem dúvida, divindade terrena,
o meu deus recente do amor,
mesmo que estejas aí, afinal!
Deixas-me preocupado, visto não saber
coisas tuas, diárias, d'hoje e d'ontem,
mas o amor que consigo por ti ter
me dá enlightenment pa prosseguir
de ti e para ti esta doce viagem!
Me diziam que tu não és o melhor,
mas meus olhos de amor míopes
não têm qualquer dúvida maior,
és tu, o rei dos antílopes
na savana sem leões do coração!
Entretanto, saíam palavras da boca,
mas o som ficava adentro,
porque sem som estou eu aqui,
à espera do meu príncipe valente,
que ele me faça soar, o som do amor!
Serei eu, então, salvo amanhã?
Não sei nem o poderia saber,
mas já que quase te tenho, amor,
não deixes que quase te perca,
promove que quase te ganhe,
faz com que sempre eu quase morra
e nunca com que eu quase viva!


26/02/2004

Saturday, January 21

CXLVIII

Vítreo, saíu

Coroa de espinhos não usava,
porque não me comparo a ninguém,
mas esses habitaram sempre em mim,
porque as coisas nunca estiveram bem!
Bem é quando o rouxinol canta,
desliza suave no mar a manta,
quando a paz reina sempre aqui,
quando eu, em mim pensante, sinto-me em ti!
Quando poderei eu ter-te?
Diz-me isso, porque já não suporto
este insuficiente poder gnósico sobre ti,
eu não sei o que tu vives, perdi
a noção do tempo por te amar,
mas não me dizes nada nestes dias,
não vês que o stress e as agonias
que tenho por não te ter dentro de mim
quando me penetras, e a tua língua
na minha boca quando me beijas
e os braços teus mais grandes
e saber que tanto me desejas,
vamos estar juntos agora, meu amor!
São duros estes dias, pensei
que seria totalmente capaz,
mas hoje sinto-me nu de armas,
desarmado contra sentimentos
que me apedrejam o coração-vidro
e contra grandes pensamentos
que me tornam inseguro o cérebro!
Mas porquê, serei eu normal,
porque não aguento isto em nome
do amor que sinto por ti, Portugal
se tornou tão longe de repente,
tenho noção que tou no fim do mundo,
ai, como me dói o coração, moribundo
por não sentir o teu bater forte
!

26/02/2004

Friday, January 20

CXLVII

Trisson

Melora, onde estás?
Onde escondeste a espada,
vivendo na sombra de ti,
ocultando a bravura enferrujada,
perdendo o doce murmúrio da vida?
Cobre teu rosto e parte daqui,
sua cabra, peste malvada,
fizeste da amizade uma causa perdida,
só por causa de uma honra desvirtuada!
E enquanto tu sorrias,
que fazia eu - chorava água e sangue...
e enquanto tu choravas,
que fazia - estava morto, há muito exangue!
Por isso vês o que aconteceria
se não houvesse uma criatura
capaz de me dar sangue, a iguaria
que faz da vida comida doce, de sabor pura!
Eu vivo, mas não pensando em tu,
porque tu és o que não quero,
prefiro a Roma de Nero,
prefiro viver à fome no Peru!
No entanto, obrigado por tudo,
porque me fizeste ver que, ao pé de ti,
eu era mais um palhaço no Entrudo,
visto que tinhas mais do que apenas um, sim!


30/01/2004

Thursday, January 19

CXLVI

Filhos do então

Cordeiro sem pele,
vivia no Inverno
como se o frio fosse quente,
como se a coisa fosse gente!
Não quero saber dos lobos
nem dos pobres humanos,
uns não me tratam como gente,
outros me matam a sangue quente!
Escuta as vozes que falam,
ouve os pássaros nos ninhos,
vê a natureza que renasce,
olha o mundo com esperança,
porque, em aspectos mesquinhos,
se pensa muito, de verdade,
isso só traz confusão demais,
as pessoas que se agridem e calam
a boca simples da criança,
a doce pele da mocidade!
A geração que virá então
será aquela da revolução,
contra tudo e contra todos,
contra humanos e lobos,
ela não vai tão cedo parar,
só muito depois de iniciar
a destruição cabal
será escrito esse final!


30/01/2004

Wednesday, January 18

CXLV

Ts LPA

Te cerco, persigo o teu valor,
escuto, silenciosamente, o som
que sai de teus lábios frios,
que aquecem com do mel o sabor!
Te escrevo, porque dirijo o vector
ao teu sagrado templo onde procuro
a procura e ser procurado,
sem mácula, sem ferida, sem dor!
Te entendo, já não possuis o vigor
que tiveste em tempos que já lá vão,
as covas onde te enterraram toldaram
o bem mais precioso, a visão!
Te conforto, para alguém que via,
é agora uma dura tarefa,
esquecer a luz, o Sol, o dia,
e viver como se o mundo fosse igual!
Te ilumino, dou a luz essencial
ao teu sobreviver penoso,
dou-te amor, suave e terno,
para que a vida não se torne glacial!
Te amo, meu amor de Portugal,
vives dentro e fora do meu corpo,
dentro e fora da minha mente,
mas sempre serás meu, sem bem nem mal!


30/01/2004

Tuesday, January 17

CXLIV

Língua das Bermudas

Queria encontrar uma maneira
de me perder na língua em que escrevo,
para desencontrar-me da vida que levo,
esta vida para viver inteira!
Que quererá isto dizer,
o que é inteiro ser,
é a chuva que cai no rio
ou o som que oiço quando me rio?
Escolherei, agora, esse caminho
de perda e reencontro,
em que vagueio e divago só,
mas em que tenho todo e qualquer ponto.
Ponto cardeal, ponto de lance livre,
qualquer um deles eu possuo,
da vida minha controlo algum usufruo,
não preciso que ruja o tigre!
Olha-me nos olhos, belo animal,
casa comigo sem ter altar,
espera que seja o safari frugal
o transporte que a ti me irá levar!
E aí, no escuro negro,
encontra a tua chance vital,
caça a tua presa, o teu tesouro,
mostra que, sem ter medo
da trivialidade casual,
da vida é capaz de tudo sair
como sai a água de um bebedouro!
Vou então, sem medo, partir!


18/01/2004

Monday, January 16

CXLIII

Aqui agora sempre

Enquanto as ondas falavam,
eu me perdia encapsulado
no domínio fechado
das ideias que entravam!
Sempre ciente de lugar,
mas com o espírito a vagar,
como quem está aqui agora,
mas decerto por cá não se demora!
É a vida curta que tenho,
porque deveras diminuta ela o é,
mas alegre tento que seja,
não me deixarei ficar sem pé
ao caminhar mar adentro,
nem que tu sejas o carrasco
que me perfure o ventre!
Entende que a tua missão é inútil,
a tua vida, para mim, é fútil,
enquanto procurares o mal
que existe na vida de todos!
Devias ser desterrado,
ó seu buru malfadado,
porque vens destruir
o que tenho aqui agora,
por que razão existes,
para quê toda essa agressão
direccionada a quem nunca
mal te fez algum?
Será que a raiva que encerras
em ti se deve soltar em mim,
dessa maneira, presente, assim?
Não sei nem pretendo saber
dado que só quero escrever,
é isso que mal ou bem sei fazer,
é algo que é demasiado forte
para que, com amarras, possas deter!


02/01/2004

Sunday, January 15

CXLII

Post-tragicus scriptum (PTS)

Pensava que a visão
poderia ser diferente,
mas na minha mente
só paira desilusão!
Isto porque a ilusão
se foi, tranquila,
como se os que estão
pudessem sair da fila!
Aquela que está posicionada
à entrada do edifício maior,
daquele que tem muita entrada,
mas ninguém a querer ficar no interior!
Aumento da força tensional,
já o tive ontem, forte e duro,
hoje já estou mais seguro
de que feliz será o final!
No semi-passado pensava
que teria que breve desaparecer,
que isso seria condição necessária
para que outros pudessem viver!
Mas algo me mostrou
o quão importante sou,
sou o mundo para tanta gente,
como me posso apagar subitamente?
Na calma procuro me erigir,
mas é difícil o conseguir,
quando existem fluxos transitórios,
demasiado cruéis, contraditórios!


17/09/2003

Saturday, January 14

CXLI

Javier

Já não há para dúvidas razão
de ter lleno o coração,
ele é o meu fofo e tem na mão
todo o tesouro que foi guardado
em épocas do mundo em criação,
e sendo então em mel preservado!
Amor é o que sinto por ele,
tenho arrepios na pele
quando no meu ouvido soa seu nome,
dos seus lábios carnudos tenho fome,
dos seus abraços doces quero provar,
alma com alma quero agregar!
Visão que nunca tinha tido,
alma gémea da minha, é garantido,
do que depender de mim, querido,
serei teu até que deixes de me amar,
momento esse em que nem quero pensar,
porque o fogo da vida se terá então extinguido!
Intervenção divina, só isso podia trazer
tanta felicidade e tanto prazer,
a única coisa que fez mal
foi tê-lo afastado da minha posição,
porque um amor internacional
é de mais difícil manutenção!
Eu, todavia, desse amor não tenho receio
porque a geografia é a única de permeio,
dado que tudo o restante me apoia
e, se não apoiasse, eu próprio o forçaria,
com a força do coração e alma
que querem ver a luz do dia!
Retiro deste poema o afirmar
de toda a força que possuo para amar,
te quiero mucho, mi chiquitin,
esse é o estado em que me encontro, assim,
apaixonado, enamorado por ti,
que o amor nos una sempre aqui!


14/09/2003

Friday, January 13

CXL

5enta

Não sabia que cabia num só dia
tanta, muita, demasiada alegria,
duas pessoas importantes, uma chamada,
vários elogios, com uma pessoa corada!
Essa coloração que surge natural
não quando a pessoa não sabe a verdade,
mas quando, mesmo ciente da verdade,
ela sente que é algo de especial!
É um momento de alegria,
o penta, é esse o dia,
mas existem outras datas
em que houveram serenatas!
Toujours é a expressão em utilização
nesse caso luso estranho,
quem fomenta a estranha situação
é um jovem poeta lusitano!
Está convencido de que as pessoas exageram
quando dizem que as expectativas não superam
a realidade da beleza do lírico espírito!
Mas tem de deixar de ter essa atitude,
visto que todos os elogios feitos com alaúde,
são extremos exemplos do belo ursito!
Urso, sim, já não tem medo do que é,
se pudesse ser a cor, teria a mesma da cré,
se pudesse escolher a arma,
preferiria a caneta ao pincel,
se pudesse ter um sabor, esse certamente
seria o doce e entusiasmante sabor a mel!


06/09/2003

Thursday, January 12

CXXXIX

Doente mas não amargo

Quando a doença chega,
não há tempo para pensar,
queres te curar depressa,
queres o vírus eliminar!
Mas quão difícil é a cura
para as epidemias do coração,
há o que provoca um rasgão,
sentimento de desgraça absoluta!
Pões a mão no amuleto,
dizes coisas que não fazes,
provocas o queimar da alma
num perigoso hadaico espeto!
Das trevas provém o utensílio
que devora os corpos benignos,
não tem piedade nem quer idílio
para quaisquer pessoas fracas,
com seus sentimentos dignos!
O tempo é de magras vacas,
já dizia o ditado que por isso dizer
sempre fez o povo tremer,
sim, porque os ossos são comidos
pelos pobres e desprotegidos.
É tempo de tudo olvidar,
concentração dirigida para amar,
um abraço e um beijo fortes
a trazer a maior e melhor das sortes!

04/09/2003

Wednesday, January 11

CXXXVIII

Escritura

Escritura do terreno,
é aquela que, com veneno,
se assina à espera dela,
da sorte de uma casa bela!
Que casa merecerei eu,
um magnífico mausoléu
ou uma barraca perto do rio,
com um soalho escorregadio?
Não me apetecia cair,
nem dos teus braços sair,
porque é lá que afinal durmo,
é a forma que, com manteiga do amor,
todos os dias unto!
Não é em vão que refiro
que palavras bonitas não retiro
da minha boca a não ser
que os teus ouvidos as possam receber!
Loucuras diversas por ti cometo,
apesar de não querer acabar
como porco no espeto,
posso no entanto tentar
o prémio, teu amor, levar!
É muito bom acordar cedo
e não saber se vou ter medo
do dia que amanhece ali,
naquele preciso instante
quando acaba a segurança constante
do período em que eu dormi!

31/08/2003

Tuesday, January 10

CXXXVII

Porta do mato

A vida está complicada
e, a cada esquina acabada,
surge mais uma alma enamorada,
que hei eu de fazer?
São espanhóis, italianos,
franceses, americanos,
só me trazem desafios,
como querem que esqueça
todos esses calorosos elogios?
Qual será o destrinçar
desta situação global,
ficarei acompanhado
ou no solitário matagal?
Essa é a pergunta do dia,
do mês e do ano,
é a que me vem à cabeça
de cada vez que a abano!
No entanto, Cana me explicou,
o matagal solitário é real,
mas não vale a pena dele tentar sair,
quando menos esperarmos,
a porta de saída se vai abrir!

31/08/2003

Monday, January 9

CXXXVI

Porco-alvo

Se a visualização do alvo
fosse o alvo do atleta,
então a acção, por mais hábil
qu'este seja, nunca estará completa!
É necessário algo mais,
uma aplicação de energia,
potencial com passagem a cinética,
para que a acção, no seu final,
seja eficaz e não estética!
Não tenho nada contra beleza,
mas não é através dos actos mais belos
que o mais imundo dos porcos
encontra os mais escondidos cogumelos!
É através do focinhar na lama,
da luta contra os seus princípios,
sim, porque um porco é um porco,
mas se calhar até gostaria
de manter limpos os fragmentos
unidos e seus interstícios!
Sobe a dor e desce o porco,
porque não há dor de porco,
no entanto, eu sinto dor, não sou porco,
o que não significa nada,
porque posso sê-lo e senti-la!
Será que existe algum porco
que, lendo aqui umas palavras,
consiga sentir a dor que vai
descendo lentamente da minha alma
as longas e férteis escadas?

21/08/2003

Sunday, January 8

CXXXV

Teclas carentes

Por detrás das 16 cores suportadas,
me pareceu que estavas contente,
talvez tenham sido doces as palavras
que escrevi com o teclado carente!
Nunca digo nada de mais,
só digo o que o coração sente,
é a minha vontade frequente
de confortar os meus lindos animais!
Animais de mente inteligente,
por isso é que entendem todas
as afirmações doces e godas
que faço, sempre com o teclado carente!
Não penses que, por estares aqui,
abraçando-me, a dor não se sente,
é no adeus com o qual de ti
me despeço, é com isso precisamente!
Voa, espírito de asa comprida,
que a asa começa a ficar dormente,
se nunca pensas deixar de viver a vida,
para que precisas do teu teclado carente?

19/08/2003

Saturday, January 7

CXXXIV

Nu recto

Posso ser estúpido, mas não
sou assim tão influenciável,
não discuto os meus gostos
com gente de mente saudável!
Se gosto de algo,
não preciso de o justificar,
a menos que a pessoa em causa
mereça que isso deva entregar!
Mesmo com este fluente,
há casos em que não há razão latente,
em que não se pode demonstrar
a razão pela qual gostar!
Esses são os casos de que mais falo,
dos quais tenho estado afastado,
pelos quais, em defesa, nunca me calo,
são esses, os amorosos!
Os tais que não entendem de causas,
que não necessitam nunca de pausas,
nos quais é elevada a taxa
de abaixamento da alma das calças,
pondo a nu um conhecimento que
de si próprio não se queixa,
visto que é intimamente completo,
desde o Odonte ao Recto!
Contudo, neste não vou terminar,
para defesa dos de mentes saudáveis,
é preciso da decadência escapar
e descobrir novos valores, intocáveis!

19/08/2003

Friday, January 6

CXXXIII

Bivalve fóssil

Dormido sobre a chuva
que cobre o tapete do teu rosto,
o medo de te perder
confundia-se com a fremente
necessidade de algo te dizer,
é preciso sem ti viver!
Contudo, os tempos que estão
eternamente a ti ligados
tornam-se novamente fortes,
são como amarras que,
tendo sofrido cortes,
se ligam de novo, criando uma união!
Entrada e saída simultâneas,
não sei qual delas barrar,
porque as duas me parecem boas,
não me digas que não voas,
diz-me antes que me adoras,
sejam 0 ou 24 horas!
As paredes que destruo
só servem para me mostrar o muro
que me atormenta a vida,
parece que me escapa a visão,
encontra tu o coração
para então me poderes dar a tua mão!
Atira, mata a solidão,
encontra no meu ombro
a felicidade aparente e real,
sai do escuro escombro,
mata o desamor total,
enche então meu coração!

06/07/2003

Thursday, January 5

CXXXII

Já porque

Já me fartei de agarrar a almofada
e de imaginar que por detrás de mim te estendes,
de crer que mesmo amargurada
a vida passar comigo tu pretendes!
Já me ajoelhei e implorei às divindades, entidades,
que dominam o vasto e etéreo celeste,
deixem o destino decidir a meu favor,
deixem um romântico ficar junto ao seu amor!
Não obtive resposta, nem a queria obter,
tudo o que desejava na vida é tudo o que me faz sofrer,
só posso, no entanto, esperar pela aurora de cada dia,
e então, ao céu solarengo, implorar cada vez mais!
Porque a cada momento que passa,
os projécteis da besta me trespassam,
e eu pareço enfraquecer nas forças vitais,
pareço mirrar, atrofiar a minha fisiologia!
Colorir o teu sorriso e poder te abraçar,
coisas simples que são, agora, difíceis de alcançar,
porque parece que eu, que sempre te quero amar,
ultimamente só consigo te fazer stressar e chorar!
Perdoa meus actos que decerto te magoam,
sabes, decerto, também que voluntários nunca foram,
devias tentar me esquecer, porque eu a ti não consigo,
melhor cura teria um toxicodependente no mais cerrado abrigo!
Relevâncias desta vida poucas levo para a campa,
mas sem dúvida que o amor que por ti tenho
será das que tem mais probabilidades de ser gravada no estanho
de que será feita a minha vestimenta para do Hades a rampa!

31/05/2003

Wednesday, January 4

CXXXI

Skonditoh

Se as nuvens escondessem
no seu véu de obscuro tecido
a razão de te ter conhecido,
encontraria força e poder
para esse motivo conhecer!
Não poderia estacar
e pensar em mil coisas mais,
enquanto não soubesse
o segredo de tudo o que
me rodeia, do mundo de animais!
Na sombra não ficaria, não...
O poder de te ter
sem esquecer o querer
de perder o morrer
por contigo permanecer!
Corvo, animal de desgraça,
não arruines a praça
onde se dá o amor!
Cortejo singelo, sem cor,
a vida bonita e festiva
sem saber que da dor se esquiva!
Indiferença visível
no rosto de quem, ao vencer,
pensa ter conseguido o possível!
Rochas dispostas como barreiras,
estimulam o meu desprazer,
criam ao climax certas fronteiras!
Museu de antigas sensações,
que por serem marinhas,
são só e só minhas,
se misturam com as ondas, dragões
que dentro de mim sobrevivem!

29/05/2003

Tuesday, January 3

CXXX

O orgão bipartido

Se as folhas me tocassem,
seriam queimadas pela acidez
em que me encontro, a nitidez
dura da realidade e do mundo
que os meus sonhos esbatem...
Se o vento me estudasse,
encontraria um objecto interessante,
na medida que, estando eu inconstante,
na sombra da felicidade mutante,
à espera que alguém do chão me levante,
sem querer ser pisado como um insecto aberrante,
por pensar que algum dia, para ti,
possa vir a ser muito importante!
Asqueroso cheiro que do imundo emana,
a árvore sem aragem não abana,
mostrador de relógio que, parado,
emite informação como se estivesse
de acção mecânica animado!
Esconde a cara, na intenção
de fugires a um compromisso sério,
ao mesmo tempo que acho isso um despautério,
é verdade que eu a ti tanto te entendo,
mas não é menos verdade que, por ti,
eu até ao Diabo a alma vendo!
Esquece tudo o que ouviste,
cheiraste, tocaste, saboreaste, viste,
no fundo, esquece tudo o que sentiste,
porque eu não sou o que existiu,
mas o que, por ti, dia-a-dia, existe!
Estes versos saem exagerados
por serem os moluscos arrancados
da concha bipartida do coração,
que não fala mas implora,
que nunca te vás todo embora!

12/05/2003

Monday, January 2

CXXIX

Corta mas não sangra

A dor que sentiste
nem o consigo imaginar
e no entanto estou triste
por contigo não estar!
Queria poder te deixar
recuperar dos danos graves,
mas a única coisa que faço
é roubar do teu cofre
do sossego as chaves!
Reconheço que é difícil,
eu entendo a tua situação,
mas entende que é difícil,
reconhece o sentimento forte
que está incluso no meu coração!
E quão difícil é te tocar
e saber que não és meu,
e saber que o mundo poderia acabar,
e saber que estando a te abraçar
é estar nunca afastado do céu!
Procura descobrir uma forma,
qualquer uma, para me amar,
ou então arranja maneira de
encontrar um espaço fechado e seguro,
onde, na loucura e desespero
de não te poder sentir junto a mim,
a me querer, a me preencher, a me ouvir,
a me amar, a me abraçar, a me adquirir,
eu possa, esquecido e morto, te olvidar!

12/05/2003

Sunday, January 1

CXXVIII

Torsão eólica humanomorfa

O meu corpo é muito pouco
comparado com o que total sou,
por isso, se te dou apenas o corpo,
é muito pouco do que sou que te dou!
Quem conviver comigo
tem de suportar o pacote,
não apenas o corpo amigo,
não apenas o das ideias pote!
Coragem de possuir coragem,
para estares comigo tens de ter,
porque, se deres por ti em viagem,
recorda-te que ao céu poderás ir bater!
Por isso, recorda que sou especial,
não sou nenhum produto estragado,
não sou nenhum espírito desgovernado,
mas um produto de perdição espiritual!
Encontra forças em ti para aguentar,
as surpresas que te faço cravam-se na pele,
eu sou o furacão que veio para ficar,
eu sou a perfeição do amor numa humana pele!

23/02/2003